Apesar de suas dificuldades mentais evidentes, que o impediam, por exemplo, de dizer frases completas, Arridy foi pressionado a emitir uma confissão falsa através de um longo interrogatório
Pamela Malva / Atualizada por Ingredi Brunato sob a supervisão de Alana Sousa Publicado em 27/06/2020, às 18h00
Em 1936, um crime chocante ocorrido no ensolarado estado norte-americano do Colorado ganhou as manchetes de jornais por todo o país.
Duas irmãs de 12 e 15 anos haviam sido atacadas no meio da noite: a mais velha, Dorothy Drain, foi estuprada e assassinada, enquanto a mais nova, Barbara Drain, a despeito do espancamento que sofreu, conseguiu sobreviver para ver um novo dia raiar.
Logo uma investigação foi iniciada para tentar pegar o homem que havia cometido aquelas atrocidades contra as adolescentes, isso tudo enquanto a própria população clamava por justiça. O caso foi lembrado pelo site Law Week Colorado em um texto de 2020.
Em meio ao fervor de encontrar o culpado pelo crime que tirou a vida da jovem Dorothy e traumatizou sua irmã mais nova, todavia, um rapaz inocente acabou sendo capturado. Era Joe Arridy, de 21 anos, que foi encontrado caminhando a esmo em uma região próxima da casa das garotas onze dias após a fatídica noite em que elas foram violadas.
A princípio, ele foi preso por “vadiagem”, todavia após um interrogatório conduzido pelo xerife George Carroll, Arridy acabou confessando ter sido o responsável pelo ataque às irmãs Drain. Para o xerife, o caso estava encerrado ali: o jovem batia com a descrição, e ainda havia admitido ser o culpado após ser questionado por algumas horas.
Ainda segundo o Law Week Colorado, todavia, Joe era na verdade um portador de deficiência mental, apresentando por exemplo grande dificuldade em falar sentenças completas, e tendo passado quase a vida toda em uma instituição dedicada a pessoas com necessidades especiais. Ele havia fugido do local quando foi encontrado pela polícia.
Essa foi apenas uma das informações descobertas a respeito do rapaz durante o tribunal que o julgou. Os psiquiatras do estado também concluíram, por exemplo, que seu QI equivalia ao de uma criança de 6 anos de idade, e que ele era "incapaz de executar qualquer ação com intenção criminosa".
Durante as vezes que foi convidado a falar, Arridy deu informações confusas e contraditórias a respeito do delito, demonstrando que na verdade não sabia os detalhes fundamentais do caso, como a arma usada para cometer o crime.
O que torna seu caso ainda mais revoltante, todavia, é que o verdadeiro responsável pelo crime contra as irmãs foi encontrado durante a mesma época. Era Frank Aguilar, que foi reconhecido por Barbara como sendo o homem que havia invadido o quarto delas naquela noite, e ainda tinha um motivo bem definido por trás de suas ações violentas — ele trabalhava para o pai das meninas, e havia sido demitido poucos dias antes do crime.
Outro detalhe é que Aguilar afirmou nunca ter visto Arridy em sua vida, e Barbara também testemunhou que ele não participou do ataque. Ainda assim, a falsa confissão do jovem portador de deficiência foi tudo que bastou para considerá-lo culpado pelo crime e condená-lo à morte, a mesma sentença que fora recebida por Frank.
O Law Week Colorado publicou também o parecer de Roy Best, que era diretor do Centro Correcional Territorial do Colorado, onde Joe foi mantido em seus dias finais, e afirmou que o rapaz era “o prisioneiro mais feliz no corredor da morte”.
“Ele provavelmente nem sabia que estava prestes a morrer, tudo o que fez foi sentar e brincar alegremente com um trem de brinquedo que eu lhe dei”, declarou ainda Best.
A última refeição escolhida por Joe foi sorvete, e antes de ser levado para a câmara de gás onde morreria, deu seu trem de brinquedo para outro prisioneiro. Ele estava sorridente enquanto era levado para ser executado, e no único momento que mostrou ansiedade, bastou Roy segurar sua mão para acalmá-lo. Quando a porta da câmara de gás foi fechada, entretanto, o diretor chorou a morte do rapaz alegre.
Foi apenas em 2011, 72 anos mais tarde, que o governador do Colorado de então, chamado Bill Ritter, concedeu um perdão póstumo a Joe Arridy, reconhecendo, afinal, sua inocência.
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