A sádica esposa do comandante do campo de concentração usava a pele de prisioneiros para fazer capas de livros, luvas e abajures
Quando Hanna Arendt falou na banalização do mal sob o regime nazista, quis dizer como os funcionários dos campos de concentração — Eichmann no seu caso de estudo — tratavam as atrocidades a que submetiam seres humanos diariamente como um trabalho qualquer.
Diferente de Eichmann, a quem Arendt considerou absolutamente banal, Ilse Koch pode ter sido uma psicopata. Mas, por outro lado, o que ela fez é um exemplo máximo de trivializar a destruição: ela transformou suas vítimas em objetos de decoração.
Moça do interior
Margarete Ilse Köhler nasceu em 1906, em Dresden, Alemanha. Filha de um fazendeiro, era uma criança alegre e educada. Aos 15 anos, deixou a escola para trabalhar em uma fábrica. Nos anos 1920, filiou-se ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Para Ilse, a ideologia nazista seria uma solução para os problemas políticos e econômicos causados pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra.
Ilse conheceu o general da SS Karl Otto Koch por meio de colegas do partido. Quando os dois se casaram, em 1936, Ilse já trabalhava como guarda e secretária no campo de concentração de Sachsenhausen, próximo a Berlim. Era, nessa época, só um campo de prisioneiros políticos, sem a intenção de extermínio.
Bem diferente seria o campo de Buchenwald, aberto em julho de 1937. Nele seria aplicado o tratamento nazista padrão de execução por câmara de gás ou, para quem fosse considerado apto para isso, por trabalho intenso sob subnutrição. Karl se tornou o primeiro comandante. E fez questão de incluir a esposa nas tarefas que exercia.
Usando o dinheiro e os bens materiais dos prisioneiros, Ilse passou a ostentar um estilo de vida luxuoso. E ficou conhecida como a figura mais diabólica do local. Ilse, humilhava e torturava os prisioneiros.
Quando andava pelo campo, açoitava qualquer um que ousasse olhar para ela. Segundo testemunhas, Ilse sentia um prazer especial quando via crianças serem separadas dos pais e levadas para as câmaras de gás.
A Bruxa de Buchenwald, como ficou conhecida, logo demonstrou uma obsessão peculiar: peles tatuadas. Mandava os prisioneiros tirarem as roupas e escolhia as vítimas pelas tatuagens que tinham.
Os selecionados eram mortos imediatamente e enviados para um cirurgião, que retirava as os pedaços de pele tatuados. Em alguns casos, a pele era arrancada como forma de tortura, com o prisioneiro ainda vivo.
As peles tatuadas viravam capas de livros, luvas, abajures e lustres, além de outros objetos. Além disso, órgãos e cabeças encolhidas eram expostos como troféus, e polegares mumificados eram usados como interruptores.
O casal Koch cairia em desgraça antes do fim do nazismo. Em 1941, Karl foi transferido para o campo de concentração de Majdanek. Dois anos depois, Ilse e Karl foram presos pela Gestapo, acusados de desviar dinheiro e roubar bens dos prisioneiros — por lei, esses bens eram de propriedade do Reich.
Ilse ficou presa até o início de 1945, quando foi inocentada. Já Karl foi condenado e executado em abril do mesmo ano.
Em 30 de junho de 1945, Ilse Koch foi presa novamente e julgada por crimes de guerra. Passou quatro anos na prisão e foi solta por falta de provas conclusivas. A decisão de soltura gerou uma onda de protestos, e Ilse foi presa mais uma vez, em 1951, e condenada a prisão perpétua.
Na prisão, sofreu de transtornos psicológicos — relatou que estava sendo assombrada pelos prisioneiros que matou e torturou. Suicidou-se em 1º de setembro de 1967, aos 60 anos, após escrever uma carta para o filho — na qual não demonstrava nenhum remorso por suas ações.