No Dia Nacional do Livro Infantil, entenda como lendas medievais deram origem a uma das figuras mais famosas da obra de Monteiro Lobato
Visual de jacaré e poder de transformar crianças em pedras. Foi assim que a Cuca apareceu pela primeira vez na obra de Monteiro Lobato – mais especificamente no livro O Saci, de 1921. Embora a criatura já existisse no folclore brasileiro como uma bruxa que só dorme a cada sete anos e persegue crianças respondonas, foi no trabalho do escritor que a Cuca entrou, de fato, no imaginário popular. E isso não foi uma criação nacional.
Seu nome deriva de Coca (pronuncia-se “côca”), o dragão que São Jorge derrotou – e que, por sua vez, se confunde com ainda outra entidade macabra: o Coco. Que daria nome à fruta.
Além de nomear a fruta descoberta pelos portugueses na viagem de Vasco da Gama ao território de Malabar (1497-1498), na Índia, o termo “coco” significava “caveira” ou “cabeça” no português da época. Pois é: chamar cabeça de “coco” vem antes da fruta, e “cuca-fresca” é um termo que seria entendido na Idade Média.
Em algumas lendas portuguesas, o Coco é um fantasma com cabeça de caveira. Para assustar as crianças, os portugueses cavavam olhos em vegetais, como rábanos ou cabaças, e colocavam velas dentro – talvez haja uma ligação com as abóboras de Halloween graças à mesma origem celta.
A isso chamavam de Coco. E Coco se tornou sinônimo de figuras de aterrorizar crianças até a obediência, termo genérico para bicho-papão. Ou até para o diabo em Auto da Barca do Purgatório, de Gil Vicente, de 1518, e para o dragão vencido por São Jorge – a Coca ou Cuca.