O evento foi feito em homenagem as bodas de prata da princesa Isabel e do Conde d’Eu
No memorável dia 9 de novembro de 1889, aconteceu o último momento de glória da monarquia brasileira: o ilustre baile da Ilha Fiscal. Na ocasião, a família imperial e a elite comemoravam as bodas de prata da princesa Isabele do Conde d’Eu.
O que Dom Pedro II não imaginava é que poucos dias depois ele seria destronado e a monarquia seria extinta do Brasil.
O evento, por sua vez, teria sido uma tática de mostrar que a coroa brasileira estava firme e forte. Em suma, seria uma forma de tentar provar que tudo estava caminhando bem na realeza.
O vaivém não parava. Eles desciam das barcas a vapor e moças em trajes de fadas e sereias os recepcionavam. O tilintar das taças se misturava aos risos e à música. Nunca se havia visto no Brasil tanto luxo. Tudo havia sido preparado para fazer do Baile da Ilha Fiscal, promovido por Dom Pedro II no sábado, 9 de novembro de 1889, um evento inesquecível.
A Ilha Fiscal contava com um gerador, instalado num barracão ao lado do palacete, que forneceu eletricidade para milhares de lâmpadas dentro e fora do edifício. Além das milhares de velas, balões e lanternas venezianas, os holofotes do couraçado Almirante Cochrane e de outros navios da Marinha ancorados ali perto faziam com que a ilha fosse o lugar mais iluminado do mundo, como escreveram os jornais da época.
Na ocasião, ironicamente, houve um momento de desconstração quase premonitória: o velho Pedro, ao andar pelos salões, teria tropeçado em um tapete e quase levado um tombo bruto. Na situação, o imperador disse: "O monarca tropeçou, mas a monarquia não caiu". Por ironia do universo, em uma semana o Bragança não precisaria titubiar para que a piada tivesse um plot twist.
Aquela foi a última festança do Império. Seis dias depois, o imperador seria deposto. Como toda balada que se preze, havia um motivo um tanto protocolar para a festa, por mais que as 2 mil pessoas presentes não dessem muita bola: homenagear o alto escalão do couraçado chileno Almirante Cochrane, ancorado no Rio de Janeiro havia duas semanas.
Mas, na verdade, era para celebrar as bodas de prata da princesa Isabel e do Conde d’Eu e provar que a monarquia seguia viva e forte — pura balela. No baile — um sucesso — o clima era calmo, mas Pedro II pouco se divertiu.
Na festança foram consumidos 188 caixas de vinho, 80 caixas de champanhe e 10 mil litros de cerveja, além de licores e destilados. O dinheiro gasto no baile, 100 contos de réis, foi retirado do Ministério da Viação e Obras Públicas.
No total, 48 cozinheiros trabalharam por três dias para alimentar os convidados, servidos por 150 copeiros. O cardápio tinha peças inteiras de caça e pesca e uma infinidade de aves exóticas, Mesas em forma de ferradura foram colocadas no pátio para servir o jantar. Entre as sobremesas, sorvete, novidade da época.
Chiques e famosos embarcavam em três vapores que saíam do cais Pharoux, na atual praça 15 de Novembro, centro do Rio. Lá, uma banda da polícia animava a noite do povo — com nada de valsa. Duas bandas militares tocaram quadrilhas, valsas, polcas e mazurcas para os convivas, que dançaram em seis salões do castelo — a princesa Isabel foi uma das pés-de-valsa.