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Matérias / Pintura

A história do "demônio" que foi apagado em pintura do século 18

No ano passado, restauração revelou um demônio na pintura "A Morte do Cardeal Beaufort", obra do britânico Joshua Reynolds

por Thiago Lincolins
[email protected]

Publicado em 25/08/2024, às 08h00

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O antes e depois da obra "A Morte do Cardeal Beaufort" - National Trust
O antes e depois da obra "A Morte do Cardeal Beaufort" - National Trust

No ano passado, a pintura "A Morte do Cardeal Beaufort", feita por Joshua Reynolds em 1789, chamou atenção na imprensa. Isso porque um meticuloso processo de restauração do National Trustrevelou que um "demônio" foi apagado no quadro do século 18. 

A figura curiosa em questão foi registrada na pintura perseguindo o cardeal. A criatura "diabólica" foi pintada na cabeceira da cama, em meio à escuridão, no momento em que Beaufort encara a morte. No quadro, é possível identificar o rei Henrique 6º e dois homens.

Inspiração em Shakespeare

De acordo com a BBC, a obra é inspirada na peça "Henrique VI, Parte 2", de autoria de Shakespeare. O cardeal em questão é retratado como um homem conspirador e "sedento de poder" que encara os momentos finais. 

Na peça clássica, o monarca presencia o adeus de seu tio-avô e implora a Deus: "Oh! "Derrote o demônio ocupado e intrometido que cerca a alma deste desgraçado". 

O detalhe revelado - National Trust

No entanto, a figura não agradou algumas pessoas no momento em que a obra foi finalizada. Enquanto um crítico alegou que Reynolds era "demasiado ridículo e infantil para escapar à censura", outro disse que "não respeita o julgamento do pintor".

A polêmica

Isso porque a maneira como a figura imaginária foi retratada causou polêmica. "Não se enquadrava em algumas das regras artísticas da época ter uma figura de linguagem poética representada tão literalmente como um monstro", disse à BBC John Chu, curador nacional sênior de pintura e escultura no National Trust. Como Joshua era respeitado, a adição se tornou um escândalo.

De acordo com o New York Times, o trabalho do artista teve defensores. Um deles foi Erasmus Darwin, o avô de Charles Darwin. Em 1791, ele escreve que o demônio "tentou ampliar o campo da linguagem pictórica", mas a pintura foi "desvalorizada" pela "crítica fria da época".

Chu também destaca que, na visão dos críticos, embora "fosse considerado aceitável na literatura introduzir a ideia de um demônio como algo na mente de uma pessoa, incluí-lo visualmente em uma pintura deu-lhe uma forma muito física".

Enquanto os anos passavam, a obra passou por restaurações através de profissionais, que pintaram e inseriram camadas de verniz. Assim, o "demônio" sumiu.

Conforme John Chu, os restauradores não interpretaram o detalhe de maneira positiva e "essa área parece ter-se deteriorado em pequenas ilhas de tinta que se tornaram menos claras", afirmou ele. "A degradação das sucessivas camadas de verniz que recebeu ao longo dos anos tornou-o ainda menos visível".