Conheça os números e alguns itens recuperados dos escombros e o projeto de reconstituição de impressões de itens em 3D pela instituição
Após um ano do desastroso incêndio no Museu Nacional, resultado de uma política negligente de proteção ao patrimônio público, ainda é difícil estimar o quanto foi perdido para as chamas.
A Direção do Museu, ainda desolada, estima que cerca de 46% da maior coleção pública do Brasil, em catálogo, sobrevive e passa por processos de identificação e conservação, sendo que 35% ainda estava sendo resgatada no mês passado.
Desse número, apenas 19% das coleções do museu não foram atingidas pelo incêndio. A maior parte sobreviveu por estar exposta no Horto Botânico, fora do Palácio da Boa Vista, quando ocorreu a tragédia.
Desde o ocorrido em setembro de 2018, a direção do museu, de Alexandre Kellner, e a reitoria da UFRJ, de Denise Pires, receberam alguns milhões para a recuperação do acervo, remoção dos escombros e reforma do prédio.
Atualmente, pesquisadores estão recriando parte do acervo do MN através de impressão 3D em tamanha real. Itens como a Luzia e o Bendegó foram escaneados e sua reprodução é estudada pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT), com uma equipe de pós-graduandos da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O projeto já existia desde o incêndio, mas ainda faz parte dos compromissos da UFRJ com a recuperação de um patrimônio inestimável que sofreu com a falta de atenção do Setor Público.
“Para começar a fazer inventário, o que a gente tem escaneado, o que a gente tem microtipado, foi importante ter acesso a este espaço”, diz Pedro Luiz Von Seehausen, arqueólogo que fazia pesquisas no Museu Nacional desde 2012. Em parceira com a PUC-RJ, a criação do acervo de arquivos-molde para a impressora 3D vem aumentando.
“Quando você chega aqui, você olha as peças já impressas, você dá uma sensação boa, você fica se sentindo, é um consolo”, diz Pedro; “É o que a gente pode mostrar hoje, resgatando essa memória, para mostrar para as futuras gerações. Minha filha, por exemplo, nunca viu. Agora ela pode ver como era o rosto e o crânio da Luzia”, acrescenta Jorge Lopes, pesquisador do INT.
Segundo a vice-coordenadora do núcleo de resgate do acervo, Luciana Carvalho, ainda é difícil dimensionar a proporção dos resgates ocorridos no Museu Nacional. No entanto, diversos itens já foram recuperados, como uma indumentária de guerra de um samurai, lâminas de machado da Nova Zelândia, estatuetas egípcias e outros itens. Porém, nesse primeiro ano de buscas, é possível afirmar que sobreviveram muitos mais itens do que se esperava após o incêndio em 2018.
Isso porque mais itens foram encontrados no decorrer desse ano de esforços da equipe: cerâmicas (incluindo da coleção de Dom Pedro II), minérios, animais taxidermizados, bonecas Karajá e fósseis como o do Maxacalissauro, um dos mais populares entre os jovens que visitavam o museu, e a Luzia, elemento mais famoso do MN.
Todavia, o fóssil mais antigo das Américas sofreu alterações decorrentes do calor do fogo, tendo sobrevivido 80% da ossada. Da coleção de invertebrados, que se esperava ter sido inteira consumida pelo incêndio, 12 mil pequenos itens sobreviveram.
Um das principais perdas do museu foi o arquivo em papel, que possuía documentos importantes de nossa história política e um acervo da memória do museu: os arquivos foram inteiros queimados. O Museu Nacional está, até hoje, em busca de arquivos que foram replicados em pesquisas anteriores ao incêndio.
A coleção menos afetada, por motivos óbvios, foi a de meteoritos. Seu maior exemplo é o Bendegó, maior pedra espacial encontrada no Brasil, que fica na entrada do Museu e não sofreu grandes alterações, por ser resistente a altas temperaturas.