Talvez a peça mais importante perdida no incêndio do Museu Nacional, Luzia é fundamental para entender a colonização das Américas
A Globonews acaba de dar uma boa notícia em meio à tragédia para as artes, historiografia e ciência brasileiras que foi o incêndio do Museu Nacional, em 2 de setembro.
Luzia, fóssil de 11,5 mil anos, foi parcialmente encontrada, segundo divulga a arqueóloga Cláudia Rodrigues. Um bombeiro já havia achado os fragmentos 3 dias depois do incêndio, quando então ela afirmou que análises minuciosas seriam necessárias. Agora, ela confirma: Luzia sobreviveu.
A importância particular de Luzia está em demonstrar o quão antiga foi a colonização da América do Sul e de onde vieram os colonizadores. Descoberto em 1974 pela arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire, em Lagoa Santa, Minas Gerais, o fóssil pegou poeira por décadas, até o antropólogo brasileiro Walter Neves ter acesso a ele em 1995. O fóssil foi batizado de Luzia em homenagem a Lucy, famoso fóssil de australopiteco de 3,2 milhões de anos.
Neves propôs que Luzia era bem diferente dos índios atuais, que tem traços semelhantes aos dos leste-asiáticos: ela seria mais parecida com os aborígenes australianos e os negritos de Nova Guiné. A mais famosa reconstrução, feita pelo bioantropólogo britânico Richard Neave em 2003, seguiu essa ideia. Com isso, o brasileiro defendeu que a América foi colonizada em mais de uma leva, e o povo de Luzia acabou extinto ou absorvido.
Depois disso, outros antropólogos, Rolando González-José, Frank Williams e William Armela, contestaram Neves, afirmando que o crânio podia ser classificado como um paleoíndio típico. Em 2005, uma pesquisa revelou que ela era parecida com os atuais botocudos, e Neves passou a classificá-los como paleoíndios.
É, enfim, um debate ainda em aberto, e o Luzia continua a ser fundamental para respondê-lo.