Em 1940, a intrigante ferramenta teria sido utilizada para executar o revolucionário bolchevique
Victória Gearini | @victoriagearini Publicado em 16/05/2021, às 10h13 - Atualizado em 12/11/2021, às 08h00
No dia 21 de agosto de 1940, o mundo foi assolado pela notícia de que Leon Trotsky havia sido brutalmente assassinado por Ramón Mercader.
De acordo com o El País, em 2018, a suposta ferramenta que matou Trotsky foi exposta no Museu Internacional da Espionagem, em Washington. Ainda segundo o site, tal fato foi responsável por levantar interrogações sobre a procedência da arma.
O artefato foi doado ao museu pelo colecionador H. Keith Melton, que segundo o site, obteve o objeto através de Ana Alicia Salas, uma mexicana que teria escondido a arma durante 40 anos.
Em um programa de rádio exibido em 2005, a mulher afirmou que seu pai, Alfredo Salas, teria presenciado a execução de Trotsky. Mais tarde, o agente do serviço secreto criou o Museu de Criminologia, onde pretendia expor a arma do crime. Contudo, após uma tentativa de assalto, decidiu esconder o objeto.
Já segundo o Museu da Espionagem, conforme noticiou o El País, o agente teria ganhado a picareta de alguns colegas de trabalho, após se aposentar do ofício.
Embora o objeto supostamente conserve o sangue de Trotsky, as autoridades nunca fizeram um teste de DNA, pois Volkov, neto do revolucionário, exigia que o artefato fosse doado para a Casa Museu de Trotsky.
De acordo com a representante do museu localizado em Washington, um boletim de ocorrência feito na época do crime mostra uma imagem de um objeto muito parecido com uma marca de sangue, muito semelhante a da picareta cedida pelo colecionador.
“O senhor Melton conseguiu obter uma autenticação do objeto por meio do selo do fabricante austríaco Werkgen Fulpmes, um detalhe que nunca veio a público”, disse a representante do museu, segundo o El País.
De acordo com o site, Volkov defendeu a ideia de que a arma que matou seu avô é um símbolo do stalinismo.
“Um objeto que normalmente serve para salvar a vida de alpinistas intrépidos nos cumes montanhosos, em suas superfícies escorregadias cheias de gelo e de neve, à beira de precipícios e gretas insondáveis, já com o cabo cortado, foi usado para matar, para assassinar, para destruir o cérebro e a vida de um dos mais famosos e brilhantes revolucionários do século 20”, disse o neto de Trotsky, conforme noticiou o El País.
Após algumas tentativas fracassadas de executar o revolucionário, Ramón Mercader, espião da União Soviética e autor do crime, ficou em dúvida entre uma pistola automática Star calibre 45, um facão e a famosa picareta.
“Pensei em usar a picareta que tinha trazido da França porque sei usá-la muito bem e já tinha percebido nas minhas escaladas nas montanhas nevadas que era possível arrancar grandes blocos de gelo com poucos golpes”, confessou o assassino à polícia, conforme as revelações compiladas por Juan Alberto Cedillo no livro Eitingon, las operaciones secretas de Stalin en México [Eitingon, as operações secretas de Stalin no México, em tradução livre].
Em entrevista ao El País, Eduard Puigventós, autor da obra Ramón Mercader, el hombre del piolet [Ramón Mercader, o homem da picareta, em tradução livre], disse que a picareta responsável pela morte de Trotsky foi crucial para deixar o episódio ainda mais conhecido.
Em contrapartida, para o historiador Puigventós, o criminoso pretendia fugir após o crime. Portanto, utilizar uma arma ou falcão, poderia chamar a atenção das autoridades.
“Acredito que ele a utilizou porque pretendia fugir depois do crime; sua mãe e Eitingon o aguardavam à porta da casa com o carro ligado. A pistola faria muito barulho e o uso do facão requeria muita habilidade, de modo que ele deve ter raciocinado que, com a picareta, poderia acabar com Trotsky num golpe só”, afirmou o especialista em entrevista ao El País.