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Matérias / Getúlio Vargas

Entenda a influência da morte de Vargas no futuro político do país

A influência da morte de Getúlio Vargas no futuro político do Brasil ainda é alvo de debate entre especialistas e entusiastas

Luiza Lopes Publicado em 21/08/2024, às 19h00

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Getúlio Vargas - Biblioteca Nacional/Imagens
Getúlio Vargas - Biblioteca Nacional/Imagens

A influência da morte de Getúlio Vargas no futuro político do Brasil ainda é alvo de debate entre especialistas e entusiastas. 

Vargas, que tirou a própria vida em 24 de agosto de 1954, enfrentava uma crise política e econômica crescente em seu segundo mandato como presidente (1951-1954). 

"Entre 1951 e 1954, ele fez um governo ruim, no geral. Não conseguiu controlar a inflação, não obteve amplo apoio popular, não conseguiu vencer a oposição nem trazer as Forças Armadas para o lado dele. Era um governo decepcionante em termos de resultados sociais e econômicos", afirma Thiago Cavaliere, doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), à Aventuras na História. 

'Confusão' na cena política

Segundo Marcos Napolitano, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), o “gesto extremo e dramático” de Vargas criou uma “enorme confusão na cena política brasileira” e influenciou na postura da oposição, deixando-a “na defensiva, sobretudo os udenistas mais radicais”. 

A morte, acompanhada pela carta-testamento, transformou ele em um mártir para grande parte da população. "Há uma forte carga emocional, incrementada pela narrativa de martírio do líder em nome do povo”, aponta o professor sobre o documento em entrevista à Aventuras na História.

No dia seguinte a sua morte, houve uma série de levantes populares contra os opositores. Para Cavaliere, "esta comoção popular mostrou a força do getulismo junto aos trabalhadores urbanos, sobretudo o operariado. O próprio Partido Comunista, forte opositor de Vargas até as vésperas do suicídio, começou a repensar sua posição política”.

Seu legado foi reivindicado por diversos grupos e líderes políticos, incluindo João Goulart (PTB), que tentou seguir a linha varguista de conciliação. "Goulart era apadrinhado político de Vargas e ex-ministro do Trabalho. Não por acaso, ele recebeu uma das cópias da Carta-Testamento, como se fosse um herdeiro direto do líder", pontua Napolitano

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Manifestantes são contidos em frente ao aeroporto Santos Dumont durante o embarque do corpo de Getúlio para o RS / Crédito: Divulgação/ Memorial da Democracia

Eleições de 1955

Segundo Napolitano, apesar da mobilização popular, “o que se seguiu entre agosto de 1954 e novembro de 1955 foi um governo conservador, que tentou evitar ao máximo a volta dos trabalhistas ao poder e mudar a política econômica do Estado brasileiro”. 

Neste contexto, Juscelino Kubitschek (PSD) e Goulart formaram uma chapa para disputar as eleições de 1955, "reivindicando a herança de Vargas, sobretudo no plano social e econômico", como aponta Napolitano. "O PTB deu uma guinada à esquerda, definindo uma linha política, social e econômica que ficou conhecida como 'nacional-popular'", acrescenta. 

O professor explica que apesar da chapa ter enfrentado dificuldades e tentativas de golpe, foram amparados por "amplos setores sociais, à direita e à esquerda, bem como etores legalistas do Exército". 

"JK, com sua habilidade, conseguiu certo consenso e foi eleito, mas ainda assim enfrentou a sempre golpista UDN, apoiada por setores militares que não se conformavam com a derrota eleitoral de 1955 e com a manutenção de uma política democrática de massas”, afirma Napolitano

Golpe de 64 adiado?

Para Cavaliere, “por causa da comoção popular, a morte, como se deu, evitou que houvesse outro caminho que não fosse a manutenção da democracia e a convocação de novas eleições”. 

"Vargas estava ameaçado de sofrer um golpe militar. Ou, pelo menos, seria tirado à força do Palácio do Catete, para depois serem convocadas eleições. Mas ele não queria sair por baixo, ter sua biografia manchada depois de tantos anos no topo e de toda a fama e imagem positiva que tinha criado. Isso acabou com a cabeça dele e, desesperado e decepcionado, resolveu tirar a própria vida", pontua.

Há ainda quem diga que o suicídio de Vargas tenha atrasado em 10 anos o golpe militar, que viria a ocorrer em 1964. É uma hipótese”, diz o historiador. 

Cavaliere também ressalta que o golpe de 64, que depôs Goulart, também pode ser visto em parte como uma reação às políticas nacionalistas e trabalhistas originadas no governo Vargas.