Piso histórico foi redescoberto recentemente no local que foi sede da Presidência da República
Publicado em 29/03/2023, às 18h15 - Atualizado em 31/03/2023, às 19h38
Um antigo jardim no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, esconde uma marcante camada de história. Foi em um buraco cavado para a passagem de tubulações de esgoto que a arqueólogaBeth Modesti Simões encontrou, no dia 16 de fevereiro, ladrilhos hidráulicos com mais de 150 anos.
Embora não exista registro desses ladrilhos em nenhuma planta do palácio, acredita-se que eles são da mesma qualidade dos pisos importados da Inglaterra na época de sua construção, que se deu entre 1858 e 1867.
Isabel Portella, especialista em ladrilhos hidráulicos e servidora do Museu da República, mapeou todas as 47 padronagens de ladrilhos existentes no local. Ela garante, segundo a fonte, que os ladrilhos encontrados na área gramada têm a mesma qualidade que os pisos usados no hall de entrada e em outras áreas do museu.
Para a chefe do núcleo de arquitetura e diretora substituta do Museu da República Ana Cecilia Lima Santana a presença de descobertas arqueológicas nos subterrâneos do museu não é tão surpreendente, mas algo dessa dimensão deixou todos os especialistas da casa sem respostas.
Quando achei esse ladrilho, reparei a qualidade. Ele tem as iniciais do fabricante, então, não temos dúvidas que é Minton. Esse fabricante era renomadíssimo, ele fez um restauro na Catedral de Westminster [no Reino Unido]", disse Beth.
A arqueóloga está atualmente empenhada em dar prosseguimento às escavações a fim de determinar a extensão total da área coberta pelos ladrilhos. Até o momento, apenas pouco mais de um metro quadrado foi revelado. Uma vez que toda a área seja aberta, ainda será necessário descobrir que tipo de estrutura existia ali.
A gente não tem nenhum relato do que pode ter sido isso. As plantas mais antigas que não mostram nada construído aqui. Os documentos mais antigos não mostram nada nessa área", acrescentou.
As pesquisadoras destacam que o palácio do Catete foi construído a mando de Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo, que fez fortuna com o tráfico de escravizados. O palácio, que ficou pronto em 1867, permaneceu na família até 1889, quando foi vendido por um dos filhos do barão.
Nos anos seguintes, ele mudou de mãos até chegar ao Banco da República do Brasil, em 1895, e ser requisitado para ser sede da Presidência da República no ano seguinte.
Como destacou a Agência Brasil, o Palácio do Catete já foi a sede da Presidência da República e residência oficial de presidentes por mais de meio século. Getúlio Vargas, por exemplo, morou e governou o país no palácio durante seu governo, terminando ali sua vida ao se suicidar.
Também foi nesse palácio que Venceslau Brás declarou guerra à Alemanha em 1917, já no fim da Primeira Guerra Mundial. O Museu da República, hoje aberto à visitação do público, foi criado no Palácio do Catete depois que a capital do Brasil foi transferida do Rio de Janeiro para Brasília em 1960.