Responsável por entregar 22 fitas caseiras com detalhes visuais do tráfico de drogas, a mulher esteve no Programa de Proteção à Testemunha
Publicado em 27/02/2023, às 21h00 - Atualizado em 15/02/2024, às 16h33
Em 2005, especificamente no dia 24 de agosto daquele ano, uma detalhada reportagem sobre a presença do tráfico de drogas e criminalidade na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, no Rio de Janeiro, chocou cidadãos cariocas ao ser publicada no jornal local Extra, sendo posteriormente reverberada em veículos noticiosos de todo o país.
Com identificações e até mesmo imagens nítidas de criminosos, usuários de drogas e até mesmo cenas de violência envolvendo menores de idade, a matéria surpreendeu pela riqueza gráfica, mostrando com fotografias como era a presença de uma facção na região nobre da capital fluminense.
Quem assinava a reportagem original era o repórter Fábio Gusmão, que assim que recebeu as informações sobre o caso, levou um ano e meio para investigar até a publicação. Contudo, ele não era o autor das fotografias, que sempre apresentavam o mesmo ângulo, capturadas de um ponto exclusivo.
Qualquer um dos identificados pela reportagem, que posteriormente se tornou alvo de investigação policial, poderia facilmente reconhecer de qual edifício partiu os registros. Dessa forma, o jornal a identificou publicamente apenas como Dona Vitória, sem detalhar andar ou como os registros foram feitos.
Na exata data da publicação da reportagem original, em 2005, era o mesmo dia em que a tal Dona Vitória havia se mudado para outro endereço, deixando o apartamento cuja janela possibilitou os registros históricos. Contudo, Vitória era um pseudônimo criado por Gusmão para preservar a real identidade da autora.
Apenas em 2023, quando a senhora faleceu, que a repórter Ana Carolina Raimundi, junto do próprio Fabio, revelaram não apenas como foram seus últimos anos de vida após a denúncia, quando entrou para o Programa de Proteção à Testemunha, mas acrescentou os dados reais da idosa; era Joana Zeferino da Paz, natural de Alagoas, que começou a fotografar as atrocidades locais no ano anterior à publicação.
Vendo a violência aumentar no local onde havia adquirido seu apartamento, ela registrava diariamente os crimes, chegando a entregar fitas para uma delegacia, sem sucesso. Mesmo com a negativa de autoridades, um policial voltou sua atenção ao conteúdo, a indicando ao jornalista do Extra, que ficou responsável por apurar as imagens.
De acordo com o programa ‘Fantástico’, da TV Globo, os flagrantes chegaram a ser repercutidos internacionalmente, resultando na prisão de mais de 30 pessoas, incluindo policiais coniventes com a situação criminosa. Longe do endereço, Joana conseguiu viver livre de perseguição da facção ou de milicianos.
Apesar do rosto só se tornar conhecido em 2023, ela inspirou uma produção dramática, onde a idosa é interpretada pela renomada atriz Fernanda Montenegro. O filme ‘Vitória’ será disponibilizado na plataforma de streaming Globoplay, feito em parceria com a Conspiração.