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Matérias / Getúlio Vargas

Da Revolução de 30 a morte: Conheça a trajetória política de Vargas

Getúlio Vargas se consagrou como uma das figuras mais influentes da história brasileira, com uma trajetória marcada por transformações profundas

Luiza Lopes Publicado em 24/08/2024, às 11h00

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Getúlio Vargas - Reprodução/Arquivo Nacional
Getúlio Vargas - Reprodução/Arquivo Nacional

Getúlio Vargas (1882-1954) se consagrou como uma das figuras mais influentes da história brasileira. Sua trajetória política é marcada por transformações profundas e controvérsias. 

À Aventuras na História, o historiador Celso Ramos, da Universidade Estácio, afirma que "Vargas é reconhecido como uma das figuras mais importantes da história brasileira, tendo contribuído significativamente para a industrialização e a formulação de direitos sociais”.

Ascensão 

O início da trajetória de Vargas enquanto presidente está ligado a política do "café com leite", que dominava o cenário político brasileiro desde o início do século XX e concentrava o poder nas mãos de São Paulo e Minas Gerais. Este fenômeno era baseado em acordos entre oligarquias, alternando a presidência entre representantes desses estados.

Ramos explica que, a partir da crise econômica global de 1929, as tensões entre essas oligarquias aumentaram, especialmente quando Washington Luís, então presidente, apoiou a candidatura de Júlio Prestes, um paulista, para a presidência, desconsiderando o acordo de alternância com os mineiros.

Em resposta, os mineiros reuniram-se aos gaúchos a paraibanos, fundando a Aliança Liberal, ainda em meados de 1929, com o objetivo de disputar as eleições presidenciais previstas para o ano seguinte. A chapa teria à frente o governador do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas e, como vice, o paraibano João Pessoa”, conta.

Em 26 de julho, João Pessoa foi assassinado e, “ainda que o caso tenha sido motivado por disputas políticas locais, foi habilmente explorado pela Aliança Liberal, que a transformou em um crime de envergadura nacional”, diz o historiador. 

As tensões continuaram a aumentar, até que, em outubro, um levante militar e civil liderado por Vargas depôs o governo federal, marcando o início de uma nova era política no Brasil.

Governo Provisório

Após a vitória da Revolução de 1930, Vargas assumiu a presidência em 3 de novembro de 1930, instaurando o Governo Provisório. Esse período foi caracterizado pela concentração de poder no Executivo, suspensão da Constituição e repressão aos adversários políticos, segundo Ramos

Além disso, para o historiador, não houve de fato uma "revolução", mas sim um "golpe de Estado".

“Havia uma ordem legal vigente em 1930 que foi quebrada com os eventos que se sucederam a partir de 03 de outubro. Assim, podemos entender essa movimentação como um golpe de Estado. Não se tratou, conceitualmente falando, de uma revolução, apesar de ter entrado para a história com este rótulo. E isso se deve ao fato de que as transformações produzidas pelo movimento de 1930 não alteraram a estrutura de classes sociais no país, nem tão pouco sua estrutura econômica”, explica.

Revolução de 1932

Durante o Governo Provisório, a forte instabilidade política culminou na Revolução Constitucionalista de 1932.

A Frente Única Paulista, formada em fevereiro de 1932 pelos principais partidos de São Paulo, o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Democrático (PD), buscava "ser oposição a Vargas e retomar a hegemonia da política federal", afirma Ramos.

Vargas, que “não desejava agravar a animosidade dos paulistas”, atendeu prontamente as reivindicações propostas. “Em 7 de março foi nomeado o paulistano Pedro de Toledo como interventor e, criou-se uma comissão responsável por promover os estudos preliminares a uma constituição”, relata o historiador.

“No entanto, o clima de embate entre setores da sociedade paulista e a ordem getulista não amenizou. Manifestantes tentaram invadir a sede do Partido Popular Paulista, de orientação varguista, localizada no centro da capital do estado. Os ocupantes repeliram os manifestantes a fogo, resultando na morte de cinco estudantes".

O evento, que ocorreu no dia 23 de maio de 1932, ficou conhecido como “MMDC”, "agravando ainda mais a situação, criando um ambiente de predisposição ao enfrentamento armado, que de fato ocorreria a partir de nove de julho deste mesmo ano”. 

Constituição de 1934

Em 16 de julho de 1934, foi promulgada uma nova Constituição. No entanto, “sua vigência foi curtíssima, pois, no ano seguinte, em 1935, devido à grave instabilidade política, o país passou a viver sob a Lei de Segurança Nacional”.

“Apesar de vida efêmera, ela trouxe importantes avanços em termos de direitos civis e sociais para o país, a exemplo da ampliação do direito de voto às mulheres e de leis trabalhistas", conta Ramos

Levante Comunista

Na época, houve uma tentativa de deposição de Vargas, realizada por militantes e simpatizantes do Partido Comunista Brasileiro, sob a liderança de Luiz Carlos Prestes.

O historiador explica que a falha do movimento foi devido aos “erros de comunicação” na articulação dos comunistas, uma vez que não conseguiram coordenar a eclosão do levante no mesmo dia e horário. “Houve um erro de avaliação do PCB ao presumir que outros militares e os trabalhadores iriam aderir ao movimento”, afirma.

Além disso, o governo disseminou um “um documento falso, forjado por militares, revelando um suposto nova plano para a tomada do poder pelos comunistas no Brasil”, conhecido como Plano Cohen, diz Ramos

A consequência imediata e a resposta para estes episódios foi o estabelecimento de um regime de exceção por Vargas, o Estado Novo, suspendendo as garantias da novíssima Constituição de 1934.

Estado Novo

O Estado Novo, iniciado em 29 de outubro de 1937, marcou um período de controle extremo sobre a imprensa e as atividades intelectuais, extinção de partidos políticos e perseguição a adversários, aponta Ramos.

Vargas usou o Departamento de Imprensa e Propaganda (D.I.P.) para censurar a mídia, promover sua imagem como ‘salvador da pátria’ e demonizar adversários políticos, sobretudo os comunistas”, explica.

Para Marcos Napolitano, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), o "Estado Novo passou a ser visto de forma mais complexa, como momento de gênese de uma política de massas contraditória, que mesclava autoritarismo com aberturas democráticas".

Renúncia

Com o tempo, Vargas passou a enfrentar cada vez mais a insatisfação dentro das forças armadas e da sociedade civil. "Para evitar um golpe militar iminente" e, possivelmente, buscando preservar sua imagem e influência futura, Vargas renunciou no dia 29 de outubro de 1945.

Eleições para o Congresso Nacional e para a presidência estavam previstas para o dia 2 de dezembro do mesmo ano e, “mais uma vez fazendo uso da sua extrema habilidade política”, conseguiu ser eleito senador por seu estado, o Rio Grande do Sul.

Posteriormente, Vargas decidiu candidatar-se à presidência no pleito previsto para 3 de outubro de 1950.

Com amplo apoio popular, e após realizar uma maciça campanha eleitoral, percorrendo diversos estados brasileiros, ele foi eleito com mais de 48% dos votos”, conta o historiador.

Morte

Durante seu segundo mandato presidencial, Vargas enfrentou crescente oposição a suas políticas nacionalistas e a acusações de corrupção e autoritarismo.

O atentado contra o jornalista e opositor Carlos Lacerda, em agosto de 1954, intensificou a pressão sobre seu governo. Envolto em um clima de instabilidade e com sua popularidade em declínio, Vargas optou por tirar a própria vida, encerrando uma fase tumultuada e complexa de sua trajetória política.

Ao lado de sua cama, deixou uma "Carta-testamento" endereçada ao “povo brasileiro”, narrando sua luta e sacrifício pessoal

Para Ramos, a morte do líder foi “o clímax de uma crise política”. “Em sua carta de suicídio, ele se retratou como um mártir, mas sua figura é mais complexa. Embora não possa ser considerado um mártir, Vargas é reconhecido como uma das figuras mais importantes da história brasileira”, pontua.