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Matérias / Racismo

Que fim levaram os negros da Argentina?

Ao longo do século 19, a população de origem africana simplesmente desapareceu do país

Cláudia de Castro Lima Publicado em 20/11/2019, às 09h00

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Vendedor negro de empanadas em Buenos Aires, em 1937 - Wikimedia Commons
Vendedor negro de empanadas em Buenos Aires, em 1937 - Wikimedia Commons

A Argentina hoje registra 90% de brancos em sua população, o número mais alto entre todos os países da América Latina. Mas nem sempre foi assim: em 1778, época em que o comércio negreiro estava ativo (durou do século 15 ao 19, ocorrendo a abolição em 1853), um censo populacional registrou 54% de negros em algumas regiões argentinas.

Em 1887, o número caiu para 1,8%. Hoje, após levas recentes de imigrantes, está em 1%. Que fim levaram os negros argentinos?

"A dizimação está ligada às guerras dos espanhóis contra ingleses, no fim do século 18. Nelas, boa parte dos negros morreu, engajados como soldados", afirma o historiador Álvaro de Souza Gomes Neto, especialista em escravidão.

Mais tarde, no processo de independência (que acontecera em 1816), foram formadas companhias apenas de negros, os Batalhões de libertos. Com a promessa de liberdade, eles ocuparam as posições mais perigosas. Morreram quase todos.

Outro motivo para o sumiço foi epidemia de febre amarela, em 1871. Os negros libertos, vivendo em condições de extrema miséria em guetos, foram os mais afetados. Soldados argentinos impediam a saída deles dos bairros em que moravam, com medo de a epidemia se alastrar entre os brancos. Assim, eles morriam sem atendimento médico.

Além disso, a Argentina passou a registrar todos os descendentes de escravos como brancos. A política de branqueamento oficial foi praticada no início do século 19. Para o governo argentino, o desenvolvimento e o progresso do país estavam atrelados à cor de pele da população.

Muitas mulheres negras casaram-se e tiveram filhos com brancos, inclusive com imigrantes europeus, que começaram a desembarcar no país antes da metade do século 19. Seus filhos, embora tivessem traços negros comprovados, eram registrados como brancos.

"As estatísticas, assim, acabaram registrando um sumiço repentino de toda a população negra da Argentina", diz o historiador Álvaro de Souza Gomes Neto. "Todo argentino que não seja descendente de indígenas tem um traço de sangue negro, mesmo que em pequena proporção."

Trabalho e racismo

O sistema econômico argentino começou a substituir a mão-de-obra escrava já por volta de 1840. "Em Buenos Aires, a força de trabalho foi basicamente de imigrantes russos, italianos, espanhóis e judeus novos", afirma o professor Álvaro Neto. No nordeste do país, a força de trabalho era, na maior parte, indígena.

Já o racismo é forte desde o século 19. "Até os anos 1930, a moda entre os negros era vestir-se, agir e falar como branco", diz Álvaro. "Desde o século 18, identificar alguém com traços negros colocava a pessoa numa condição social extremamente baixa. Há processos e buscas de retratação de pessoas registradas assim."

O século 20 presenciou uma nova leva de imigrantes africanos na Argentina. "Temos aqui no país uma comunidade organizada de cabo-verdianos que chegaram principalmente entre as duas guerras mundiais em busca de melhores possibilidades de trabalho", afirma a filósofa argentina Dina Picotti.

Segundo ela, a imigração africana vem crescendo novamente. De fato, um último censo realizado em 2012 mostra que os negros voltaram a representar entre 3 e 4% dos argentinos. 


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