As mulheres só foram aceitas no Comitê Olímpico em 1981, mais de oito décadas após a fundação da entidade
Dona de um estilo agressivo de tênis, avançando com frequência à rede para definir uma jogada, a inglesa Charlotte Cooper foi a primeira mulher a ganhar, individualmente, uma medalha de ouro olímpico – curiosamente, ela usava gravata nas partidas.
Os Jogos de Paris, em 1900, foram os primeiros a “tolerar” a participação feminina, ainda que restrita a dois esportes: tênis e golfe. A condessa suíça Hélène de Pourtalès foi campeã antes de Charlotte, no mesmo evento, mas competindo na vela, que permitia equipes mistas – ela dividiu o barco com seu marido e um sobrinho.
Segunda cidade a sediar uma Olimpíada na era moderna, Paris foi a primeira a ter mulheres entre os competidores. Mas elas eram minoria. Minoria mesmo. Dos 997 atletas participantes, só cerca de 20 era mulheres. E mesmo assim competiram contra a vontade do Barão Coubertin, já presidente do Comitê Olímpico Internacional. Machista fervoroso, ele repudiou a inclusão delas nas “suas” Olímpiadas até o fim da vida
Entre seus argumentos, houve pérolas do pensamento patriarcal, como esta: “A glória da mulher vem merecidamente do número e da qualidade das crianças que ela produziu. Suas maiores realizações estão em encorajar os filhos à excelência em vez de buscar recordes para si mesmas”.
O “falocentrismo” do francês não era exatamente uma exceção entre o pensamento vigente no fim do século 19. Mas aquele era também um tempo de transformações: apenas três anos após os Jogos de Paris, era criado o Movimento Sufragista, com a fundação da União Social e Política das Mulheres (WSPU, na sigla em inglês) que mudaria a história da política ao militar pelo direito feminino ao voto no Reino Unido.
Ainda que a participação das mulheres nos Jogos fosse crescendo ao longo dos anos, o COI permaneceu em descompasso com a evolução na igualdade de gênero. Elas só foram aceitas no comitê a partir de 1981 – mais de oito décadas após a fundação desse Clube do Bolinha.