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Matérias / Mundo

Charles Esler: O homem que passou 50 anos hospitalizado sem estar doente

Natural da Escócia, Charles Esler foi hospitalizado aos 10 anos de idade, e só teve sua plena liberdade mais de cinco décadas depois, aos 62

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 12/05/2024, às 16h00 - Atualizado em 15/05/2024, às 18h27

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Charles Esler - Reprodução/BBC
Charles Esler - Reprodução/BBC

Em todo o mundo, um problema comum às pessoas que são presas por cometer um crime e, eventualmente, soltas, é a ressocialização, visto que, por exemplo, quem tenha passado 20 anos encarcerado, se depararia com um mundo completamente novo e diferente, com os vários avanços da tecnologia, redes sociais e no próprio cotidiano comum.

Entretanto, um homem escocês chamado Charles Esler pode ter vivido por algo semelhante em seu país, mesmo que nunca tenha cometido um crime. Isso porque, em vez de ter sido confinado em uma prisão, ele passou mais de cinco décadas hospitalizado — e mais: sem sequer estar realmente doente. Entenda!

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Charles Esler

Nascido e crescido em Glasgow, Charles Esler apresentou dificuldade de aprendizagem leve e epilepsia ainda na infância, o que tornava seu comportamento desafiador aos pais, tendo sido levado ao hospital pela primeira vez quando tinha apenas 10 anos.

Na época, os médicos tiveram dificuldade em acertar a medicação para a epilepsia, e por isso, inicialmente, ele foi mantido hospitalizado, para cuidado permanente.

Antiga fotografia de Charles Esler (à direita) quando criança / Crédito: Divulgação/Margo McKeever

O que certamente ninguém esperava era o tempo que ele passaria vivendo no hospital. Foi só em 2023, aos 62 anos, que ele finalmente saiu, mesmo que nunca tenha ficado gravemente doente. À BBC Scotland News, o serviço de notícias da BBC na Escócia, Charles disse que nunca gostou de ficar trancado, sem sua liberdade.

Porém, para ele conquistar essa tão sonhada liberdade, foram necessários muitos anos de batalha. Segundo David Fleming, da instituição beneficente Richmond Fellowship Scotland, "a família lutou durante anos para encontrar um lugar adequado para ele. Infelizmente algumas pessoas ficam presas no sistema".

Sistema controverso

E de fato, conforme descoberto em uma investigação da BBC, ele não foi um caso único de pessoa mantida hospitalizada por anos, sem necessidade, na Escócia. Centenas de outras pessoas com dificuldade de aprendizagem — dislexia — seguem confinadas em hospitais no país, vivendo muitas vezes a centenas de quilômetros de suas famílias.

Isso ocorre mesmo com décadas de políticas governamentais ativas que deixam claro que os pacientes nessas situações deveriam ser transferidos de instituições médicas de longa permanência para suas casas. Por sua vez, isso vem levantando uma série de discussões acerca das políticas governamentais do país.

Ainda hoje, familiares de pacientes diagnosticados com dislexia lutam para que seus parentes possam viver longe dos hospitais, e de formas cada vez mais independentes, considerando os avanços da medicina moderna. Porém, na prática, o que tem ocorrido ainda é distante disso, e o número de hospitalizados até mesmo aumentou.

Nova vida

Felizmente, ao menos para Charles Esler, por mais que tardia, a liberdade chegou. Ainda segundo David Fleming à BBC, ele "foi incrível durante a transição, e está prosperando, está bastante independente até agora", o que com certeza é uma grande vitória, considerando que ele não teve oportunidade para ser independente desde quando ainda era uma criança.

Charles Esler / Crédito: Reprodução/BBC

Posso sair agora e ir a alguns lugares, ir ao pub no fim da rua e almoçar lá. Gosto de fish and chips [peixe e fritas, prato típico do Reino Unido]. É uma sensação boa. Nunca tive liberdade antes", disse Charles ao veículo escocês.

Além disso, ele também adora sentar na sala de sua casa — ele adquiriu seu próprio e primeiro apartamento no ano passado — e assistir filmes. Também conta estar aprendendo, pouco a pouco, a cozinhar, jardinar, e fazer faxina sozinho, e até mesmo possui certa vida social, visitando pubs locais.