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Matérias / Ainda Estou Aqui

Ainda Estou Aqui: Conheça a história de luta da mulher que inspirou o filme

Aplaudido no Festival de Cinema de Veneza, o filme Ainda Estou Aqui resgata a importante história de Eunice Paiva e os horrores da ditadura

por Thiago Lincolins
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Publicado em 02/09/2024, às 16h00

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Eunice Paiva: Realidade e ficção - Arquivo pessoal e Divulgação/Globoplay
Eunice Paiva: Realidade e ficção - Arquivo pessoal e Divulgação/Globoplay

No último domingo, 1º, o filme brasileiro "Ainda Estou Aqui" foi lançado no Festival de Cinema de Veneza. Emocionante, narra a história real de Eunice Paiva, uma mulher que, durante 40 anos, buscou a verdade sobre o desaparecimento de seu marido, o deputado Rubens Paiva.

O longa-metragem recupera os horrores da ditadura militar brasileira. Quem assiste relembra o período sombrio da época, marcado pelo controle dos militares.

Com Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro, a produção é baseada nas memórias de Marcelo Rubens Paiva sobre sua família, reunidas no livro de mesmo nome. Mãe de cinco filhos, a vida de Eunice vira do avesso quando o seu marido acaba sequestrado pela Polícia Militar e some sob o controle das autoridades

"Essa mulher se reinventa. E assim como o Brasil, através da Justiça e o Brasil através da Constituição e a Eunice através da advocacia, se reinventa e, através da justiça, ela faz o país reconhecer, 26 anos depois, que a família dela sofreu um atentado de estado", explicou Fernanda Torres ao Fantástico.

História real

A verdadeira Eunice, que nasceu em São Paulo, se tornou símbolo dos Anos de Chumbo. Fascinada por leitura, brigou com o próprio pai pelo direito de estudar e se destacou entre os familiares ao passar em primeiro lugar no vestibular de letras na Universidade Mackenzie, explica o portal Memórias da Ditadura.

Eunice ao lado do marido, o deputado Rubens Paiva - Arquivo pessoal

Durante anos, buscou informações sobre o paradeiro de seu companheiro. Conforme o portal Memórias da Ditadura, Rubens sumiu após ter sido preso, torturado e executado no DOI-CODI, no Rio de Janeiro, em 1971.

Ao lado da filha, Eliana, que tinha apenas 15 anos, Eunice também acabou no DOI-CODI e esteve presa durante 12 dias, enquanto a filha permaneceu no local por 24 horas. Liberada, a mulher exigiu que a verdade sobre o seu marido fosse revelada. 

Quando soube que o companheiro fora assassinado, lutou pelo reconhecimento do óbito e tentou descobrir o local de seu sepultamento. 

"A gente morava no Leblon. Meu pai era engenheiro, era diretor de uma empresa de engenharia. Ele ia muito à praia, jogava vôlei. Estavam todos voltando para casa, era um fim de semana e de repente aparece a polícia, à paisana, e o intima, quer levá-lo para depoimento. Assim era dito. Mas com gente armada dentro de casa. Meu pai tinha cinco filhos, eu não estava em casa naquele momento, mas meus irmãos estavam, minha mãe estava. Ele vestiu o terno, a gravata, e espertamente decidiu ir dirigindo o seu próprio carro. Minha mãe foi presa no dia seguinte, ficou dez dias, minha irmã de 15 anos também. Quando minha mãe foi solta e voltou para buscar o carro, ela assinou um recibo, e ela tinha uma cópia desse recibo. Por muito tempo, essa foi a prova única que a gente teve de que ele tinha sido preso", disse Vera Paiva, filha de Eunice ao TUTAMÉIA em 2021.

Eunice e Rubens ao lado da família - Arquivo pessoal

Viúva, ela cursou Direito enquanto também cumpria o papel de ser mãe de cinco filhos. Quando formada, se tornou uma advogada focada em lutas sociais e políticas. Até a queda da ditadura, ele combateu o regime e atuou nos direitos dos indígenas.

Legado

Dedicada aos povos originários, Eunice também é um dos nomes por trás da fundação do Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (IAM), que defendia os direitos dos indígenas, em 1987. No ano seguinte, atuou como consultora da Assembleia Nacional Constituinte, responsável pela promulgação da Constituição Federal Brasileira.

Também foi uma das pessoas que culminaram na promulgação da lei que reconhece as mortes de pessoas que sumiram enquanto estavam envolvidas com atividades políticas durante a ditadura. 

Foi apenas em 1996, anos após a sua incansável luta por justiça, que conseguiu o atestado de óbito de seu marido. Lidando com o Alzheimer, ela faleceu em 13 de dezembro de 2018, em São Paulo. Seu legado permanece.