Quando realizou o rotineiro exame, Lydia Fairchild não esperava se deparar com a surpresa mais bizarra de toda a sua vida
Todo o pesadelo de Lydia Fairchild começou em 2002, quando ela se candidatou para participar do programa de assistência do governo do estado de Washington, nos Estados Unidos. Parte da burocracia exigia que a mulher, seu ex-namorado, Jamie Townsend, e os dois filhos de Lydia passassem por um exame de DNA.
Curiosamente, o obstáculo que deveria ser apenas um procedimento rotineiro se tornou um ponto de virada na vida da moça, que tinha apenas 26 anos quando recebeu um dos resultados mais insólito de toda a sua vida. Segundo os exames, Jamie era o pai dos pequenos, como esperado, porém Lydia não era a mãe.
Foi então que a suspeita do governo em relação à mulher começou. A mãe foi chamada para uma reunião com o Departamento de Serviços Sociais, onde seu pesadelo para provar a guarda dos filhos começou. E, segundo uma das assistentes sociais disse para Fairchild, “O DNA é 100% infalível e não mente". Tudo era um verdadeiro pesadelo.
“Quando me sentei, eles vieram e fecharam a porta, e eles simplesmente voltaram e começaram a me echer com perguntas como, 'Quem é você?’”, contou ela, em entrevista à ABC em 2006. O que os funcionários do órgão pensavam então é que estavam de frente para um caso de sequestro de crianças, além de fraude na previdência.
Para tornar a experiência ainda mais aterrorizante, logo antes dela se levantar para voltar para casa, ainda ouviu uma ameaça: “Sabe, podemos ir buscar seus filhos a qualquer hora", disse uma das assistentes sociais.
Para não perder a guarda dos dois filhos, Lydia precisou entrar em uma batalha judicial que parecia estar perdida antes mesmo de começar. Isso porque na época um exame de DNA era considerado uma evidência definitiva, acima de qualquer questão. Com o objetivo de eliminar possíveis erros humanos, os testes foram refeitos por diversos laboratórios, infelizmente para a mãe, com ainda o mesmo resultado inexplicável.
Quando o pior parecia inevitável, contudo, Fairchild e seu advogado encontraram outro caso muito semelhante ao seu. Tratava-se de Karen Keegan, que só descobriu a anormalidade do código genético incompatível com o dos filhos porque um dia precisou de um transplante de rins, o que fez com que todos fizessem testes de DNA para verificar se uma doação dentro da família seria possível.
No caso de Keegan, quem realizou a investigação do que estava acontecendo foram os próprios especialistas que a tratavam. "Era um mistério médico. Certamente houve indivíduos por quem contamos a história que disseram: 'deve haver um esqueleto no armário", contou a patologista Lynne Uhl à ABC.
O mistério foi desvendado quando Karen lembrou que alguns anos atrás tinha feito a retirada de nódulos da tireoide. Ela sugeriu que o exame de DNA fosse feito nesse nódulo, que por coincidência era onde estava o código genético relacionado ao de seus filhos. Essa mãe tinha o sangue dela com um genoma, e os tecidos com outro, como se fosse duas pessoas em uma.
Todavia, é preciso ter calma. Não estamos escrevendo um roteiro para a série Dark — sim, sabemos que você pensou nisso. Também é necessário explicar que ela não tinha uma vida dupla. A explicação é totalmente científica.
Segundo o documentário 'Chimera: The Twin Inside Me' (ou "Quimera: O gêmeo dentro de mim", em tradução livre), se tratava de uma condição rara - até então, com apenas cerca de 30 casos documentados mundialmente — chamada de “quimerismo”, em que uma pessoa abrigava em seu organismo dois tipos de células geneticamente diferentes. E era algo que acontecia como resultado da fusão de gêmeos no útero. Assim, biologicamente falando, Karen Keegan era ela mesma, mas também era sua irmã gêmea.
E foi exatamente isso que estava acontecendo com Lydia Fairchild: ela também era uma quimera. Porém, apenas trazer à tona a história de Karen não foi suficiente para o tribunal de Washington.
A mãe de duas crianças, por acaso, estava prestes a ser mãe de três, e foi essa sua prova final. Um dos oficiais de justiça esteve presente durante o nascimento de seu terceiro filho e realizou a coleta de DNA ali mesmo. Mais uma vez, o resultado foi que os códigos genéticos não batiam, ainda que todos os presentes tivessem visto o parto com os próprios olhos.
Foi então que Lydia foi afinal submetida a testes que comprovaram que era uma quimera, com partes do corpo com um código genético, e outras partes com o de sua irmã gêmea absorvida no útero. Depois, Fairchild pôde afinal voltar à sua vida normal, com ninguém mais duvidando que fosse a mãe de suas crianças.