Uma mudança abrupta no tempo fez com que maratonistas ficassem presos nas montanhas durante uma chuva de granizo
No último sábado, 24, um campeonato esportivo na China acabou tomando uma direção catastrófica após uma mudança repentina do clima local. O evento consistia em uma ultramaratona, isto é, uma corrida a pé que ultrapasse os 42 mil metros (ou, mais especificamente, 42.195) que configuram a distância padrão de uma maratona.
No caso em questão, os 172 atletas que se reuniram para a disputa precisariam percorrer 100 quilômetros. Para adicionar um nível ainda maior de dificuldade, vale mencionar que o percurso contava com terrenos acidentados, como encostas e desfiladeiros. Nos pontos mais altos do trajeto, por exemplo, a atitude era de mais de mil metros. As informações foram repercutidas pela Agência Brasil.
O local da realização do evento esportivo era a província chinesa de Gansu, e quando foi dada a largada naquela manhã, o céu estava nublado e a previsão para o dia até era de chuva, mas não nas proporções em que ela veio.
Três horas após o início da disputa, começou a chover granizo, fazendo as temperaturas despencarem bruscamente - chegando a graus negativos - justamente na região que os corredores precisavam cruzar.
Os atletas não usavam roupas adequadas para resistirem ao frio, com a maioria vestindo simplesmente camisetas e bermudas, de forma que a possibilidade de hipotermia se tornou imediatamente um risco. A baixa visibilidade ainda fez com que muitos se perdessem da trilha que deveriam seguir através das montanhas.
De acordo com o que foi divulgado pela Reuters, quem enfrentou a pior situação foram justamente os maratonistas que estavam liderando a prova - estando, portanto, com menos condições para voltar à segurança a tempo.
Dentre os seis primeiros, apenas um deles sobreviveu, com os outros estando entre as 21 vítimas fatais do episódio.
As baixas incluíram ainda dois atletas de elite, conhecidos na China por serem os melhores competidores da modalidade: eram eles o multicampeão Liang Jing e Huang Guanjun, respectivamente de 31 e 34 anos.
O único entre os seis maratonistas liderando a corrida que sobreviveu foi Zhang Xiaotao, de 29 anos, que foi resgatado por um pastor de ovelhas local quando já estava inconsciente e em processo de hipotermia, segundo repercutido pelo G1.
"Apertei SOS no meu rastreador de GPS e desmaiei. Fiquei inconsciente na montanha durante cerca de duas horas e meia até um pastor passar e me carregar até uma caverna. Ele fez uma fogueira e me envolveu em um edredom. E depois de cerca de uma hora, acordei”, escreveu o atleta em sua conta no Weibo, que é uma rede social conhecida por ser uma espécie de “Twitter chinês”. O Twitter em si, no caso, é proibido na internet do país.
“Sou muito agradecido ao grande homem que me salvou, porque sem ele, eu ainda estaria lá. Nunca esquecerei a vida nova que ele me deu!", completou Zhang ainda, conforme o G1.
Uma das outras sobreviventes foi Mao Shuzhi, que explicou em entrevista à Reuters que quando viu o céu fechar decidiu dar meia-volta, desistindo da prova - uma ação que, se não salvou sua vida, ao menos lhe poupou de uma experiência traumatizante.
"No início, fiquei um pouco arrependida. Pensava que poderia ser apenas uma chuva passageira, mas quando vi os fortes ventos e a chuva mais tarde, pela janela do meu quarto de hotel, senti-me tão sortuda por ter tomado essa decisão", contou ela.
O processo de buscas pelos maratonistas começou após o temporal, e reuniu 1,2 mil pessoas, além de drones, detectores de rádio e sensores de calor, ainda segundo a Agência Brasil.
Havia ocorrido ainda um deslizamento de terra durante o episódio, o que prejudicou a procura pelos sobreviventes, e contribuiu para que alguns corredores já fossem encontrados sem sinais vitais.
Os responsáveis pela administração da maratona estão ainda sofrendo duras críticas dentro da China por não possuir uma preparação maior para lidar com a situação de emergência.