Uma reportagem publicada em 1995 mencionava a história de Wickfield como "descendente de nobres britânicos" e futuro juiz em Limeira
O Ministério Público de São Paulo denunciou o juiz aposentado Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, de 67 anos, por uso de documento falso e falsidade ideológica.
Segundo as investigações, ele viveu quatro décadas com uma identidade fictícia, enquanto ocultava sua verdadeira, enganando instituições públicas ao longo de sua carreira na magistratura paulista. Seu nome real, conforme apurado, é José Eduardo Franco dos Reis.
A farsa foi descoberta em outubro de 2024, quando Reis tentou obter uma nova via de sua carteira de identidade com o nome falso em um posto do Poupatempo, na capital paulista.
O caso levou a uma investigação da Polícia Civil, que cruzou impressões digitais do juiz aposentado e revelou a fraude. A denúncia foi apresentada à 29ª Vara Criminal de São Paulo no fim de fevereiro.
A identidade fictícia teria sido criada em 1980, quando Reis emitiu um RG com o nome falso, alegando ser filho de Richard Lancelot Canterbury Caterham Wickfield e Anna Marie Dubois Vincent Wickfield. Com essa documentação, ele ingressou na Faculdade de Direito da USP, onde se formou em 1992, e foi aprovado no concurso para juiz em 1995.
Ao longo da carreira, Reisassinou sentenças e despachos com o nome falso, atuando em diversas varas cíveis e chegando a ocupar o cargo de Coordenador do Núcleo Regional da Escola Paulista da Magistratura em Serra Negra (SP). Em 2018, aposentou-se oficialmente, ainda sob a identidade falsa.
Uma reportagem publicada pela "Folha de S.Paulo" em 1995 mencionava a história de Wickfield como "descendente de nobres britânicos" e futuro juiz em Limeira. Na entrevista, ele afirmava ter vivido na Inglaterra até os 25 anos e ser neto de um magistrado inglês.
No entanto, registros do cartório de Águas da Prata (SP) revelaram que seus pais tinham nomes tipicamente brasileiros: Vitalina e José.
A Promotoria conseguiu listar pelo menos três ocasiões em que o juiz aposentado emitiu documentos falsos:
Com o avanço das tecnologias de biometria, a polícia comparou as impressões digitais de Reis e "Wickfield", comprovando que eram a mesma pessoa. Diante das evidências, o Ministério Público pediu o cancelamento de todos os documentos emitidos em nome falso, incluindo o CPF. Além disso, a Promotoria solicitou medidas cautelares, como a entrega do passaporte do acusado e a proibição de ele deixar a cidade onde reside.
As razões por trás da identidade dupla ainda são desconhecidas, e a defesa de José Eduardo Franco dos Reisnão se manifestou até o momento.