Caso raro de síndrome da língua estrangeira intriga médicos: jovem acreditava estar em Utah e não reconhecia os próprios pais após anestesia
Um adolescente de 17 anos na Holanda viveu uma experiência digna de roteiro de filme após uma cirurgia de rotina no joelho: ele acordou falando apenas inglês com sotaque americano e afirmando estar em Utah, nos Estados Unidos. O caso, ocorrido em 2022 e divulgado pelo Daily Mail, chamou a atenção de especialistas por se tratar de uma manifestação rara da chamada síndrome da língua estrangeira (SLE) ou síndrome do sotaque estrangeiro (SSE).
Segundo os médicos, o jovem — cuja identidade não foi revelada — sofreu uma lesão jogando futebol e foi submetido a um procedimento ortopédico sob anestesia geral. A cirurgia foi bem-sucedida, mas o que aconteceu nas horas seguintes surpreendeu a todos: o adolescente perdeu completamente a habilidade de falar e compreender sua língua nativa e insistia que estava em outro país. Ele também não reconhecia os próprios pais.
Sem histórico de doenças neurológicas ou psiquiátricas, o caso intrigou os profissionais do hospital, que chegaram a solicitar uma avaliação psiquiátrica de urgência. No entanto, nenhuma explicação clara foi encontrada.
Somente cerca de 18 horas após o despertar, que o jovem começou a entender holandês novamente, embora continuasse se comunicando apenas em inglês. A fala em sua língua natal só retornou gradualmente após a visita de amigos, e em poucos dias, ele teve alta médica.
Os médicos, então, passaram a investigar a literatura médica e diagnosticaram o caso como uma possível manifestação da SLE, uma condição extremamente rara — com cerca de 100 ocorrências registradas desde sua primeira descrição, em 1907, pelo neurologista francês Pierre Marie.
A síndrome está geralmente ligada a lesões cerebrais, derrames, tumores ou traumas, afetando a chamada área de Broca, responsável pela fala e pela linguagem.
Segundo 'O Globo', o que torna o caso ainda mais incomum é que o adolescente não passou por nenhum evento cerebral traumático. Os exames neurológicos e físicos foram considerados normais, e não houve indicação para exames mais aprofundados, como EEG ou neuroimagem.
Em uma consulta de acompanhamento três semanas após o ocorrido, ele afirmou estar recuperado e não apresentar mais dificuldades com a língua holandesa.
Um estudo recente publicado no Journal of Oral and Maxillofacial Surgery em 2024 sugere que a anestesia pode interferir na comunicação entre centros cerebrais, causando episódios de confusão, desorientação e, em casos extremamente raros, manifestações como a SLE.
Especialistas afirmam que mais pesquisas são necessárias para compreender totalmente como anestesias aparentemente inofensivas podem desencadear efeitos tão inusitados.