Escavação, que antecede a construção de um novo centro de pesquisa, já havia revelado outras estruturas, como um abrigo da Guerra Civil Espanhola
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 25/04/2025, às 15h15 - Atualizado em 26/04/2025, às 11h34
Durante escavações arqueológicas em um antigo mercado de peixes no bairro de Barceloneta, em Barcelona, arqueólogos fizeram uma descoberta impressionante: os restos de um grande barco medieval que ficou submerso por mais de 500 anos.
A escavação, que antecede a construção de um novo centro de pesquisa dedicado à biomedicina e à biodiversidade, já havia revelado estruturas significativas — de um abrigo antiaéreo da Guerra Civil Espanhola a vestígios do século XVIII.
Mas o achado mais recente surpreendeu a equipe: a popa em ruínas de uma embarcação que pode ter naufragado durante uma tempestade entre os séculos XV e XVI, quando a área ainda era mar aberto.
O fragmento preservado do navio tem cerca de 10 metros de comprimento por três de largura, e conserva mais de 30 nervuras curvas de madeira, fixadas com pregos de ferro e madeira — uma técnica típica da construção naval mediterrânea no final da Idade Média.
“Pensávamos que poderiam ser encontrados vestígios de embarcações, já que o local fica próximo ao antigo porto e ao cais artificial que o protegia”, afirmou ao The Guardian o arqueólogo-chefe Santi Palacios. “Dois anos depois, tivemos a sorte de encontrar um barco.”
Batizado de Ciutadella I, em referência ao parque próximo, o navio está a cinco metros abaixo do nível do mar e encontra-se extremamente frágil. Para evitar sua deterioração, os arqueólogos mantêm a madeira úmida e coberta com areia — exatamente como esteve durante séculos.
A madeira precisa ser mantida constantemente úmida para se preservar”, explicou ao jornal a restauradora Delia Eguiluz. “Quando for transportado, precisaremos desmontá-lo peça por peça.”
A equipe agora cataloga os fragmentos, coleta amostras e mapeia o local. O próximo passo será levar os destroços para um centro de conservação especializado, onde o casco será tratado com cera solúvel em água, técnica que permite preservar sua estrutura original. Os especialistas esperam que os materiais ajudem a entender melhor os métodos de construção naval da época.
A descoberta ocorre 17 anos após o achado do Barceloneta I, outro navio do século XV encontrado perto de uma estação ferroviária da cidade. Ao contrário do Ciutadella I, porém, aquele era um barco de origem cantábrica. A expectativa agora é que a análise da madeira e da resina do novo achado ajude a identificar seu local de origem.
“Não se trata apenas de encontrar um barco”, destacou Palacios. “Agora temos dois exemplos perfeitamente documentados de embarcações medievais descobertas em Barcelona.”