Hipótese de que as duas espécies teriam cruzado em diferentes momentos foi detalhada em estudo publicado na última terça-feira, 5
Os denisovanos (Homo denisovensis), um grupo de hominídeos identificado por volta de 2010, são considerados um elo crucial na evolução humana. Cientistas acreditam que eles cruzaram com os Homo sapiens em várias ocasiões, transmitindo genes que ainda estão presentes em algumas populações modernas. Essa hipótese foi detalhada em um estudo publicado na última terça-feira, 5, na revista Nature Genetics.
“É um equívoco comum que os humanos evoluíram de forma repentina e ordenada, a partir de um ancestral comum”, afirma Linda Ongaro, pesquisadora do Trinity College Dublin e líder do estudo, de acordo com informações do portal Galileu. “Quanto mais aprendemos, mais percebemos que o cruzamento com diferentes hominídeos ocorreu e ajudou a moldar as pessoas que somos hoje.”
Os denisovanos foram identificados a partir de um osso de dedo encontrado na caverna Denisova, nas montanhas Altai, na Sibéria. Essa descoberta revelou um grupo humano até então desconhecido, distinto de neandertais e Homo sapiens. “Foi uma das descobertas mais emocionantes na evolução humana na última década”, observa Ongaro.
Embora o registro fóssil dos denisovanos seja escasso — incluindo apenas um osso de dedo, um maxilar, dentes e fragmentos de crânio —, avanços no estudo do genoma permitiram aos cientistas compreender melhor sua interação com outras espécies humanas. O estudo recente identificou evidências de pelo menos três eventos de cruzamento entre denisovanos e Homo sapiens, cada um deixando diferentes marcas genéticas.
Segundo Ongaro e sua colega Emilia Huerta-Sanchez, os denisovanos possivelmente habitaram uma vasta área que ia da Sibéria ao Sudeste Asiático e Oceania, chegando até a América do Sul. Eles estavam bem adaptados a ambientes diversos, desde regiões montanhosas e frias até áreas tropicais.
Os pesquisadores também destacaram genes de origem denisovana que proporcionaram vantagens adaptativas aos humanos modernos. Um exemplo é um locus genético que confere tolerância à hipóxia, essencial para populações que vivem em grandes altitudes, como os tibetanos. Outras adaptações incluem genes que melhoram a resposta imunológica e otimizam o metabolismo lipídico, fornecendo calor em climas extremamente frios, como observado em populações árticas.
“Há inúmeras direções futuras para pesquisa que nos ajudarão a contar uma história mais completa de como os denisovanos impactaram os humanos modernos, incluindo análises genéticas mais detalhadas em populações pouco estudadas, o que poderia revelar traços atualmente ocultos da ancestralidade denisovana”, aponta Ongaro. “Além disso, integrar mais dados genéticos com informações arqueológicas - se pudermos encontrar mais fósseis - certamente preencheria mais algumas lacunas.”
+ Confira aqui o estudo completo publicado na Nature Genetics.