Pesquisadores sugerem fator que pode ter sido decisivo e inédito para a desestabilização de um império já enfraquecido; entenda!
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 08/04/2025, às 16h00 - Atualizado em 24/04/2025, às 18h01
Na Islândia, cientistas descobriram nas últimas semanas novos vestígios de uma era glacial pouco conhecida que, inclusive, pode ter influenciado diretamente o declínio do Império Romano.
Rochas com características peculiares, identificadas na costa oeste da ilha, teriam sido levadas até lá por icebergs oriundos da Groenlândia entre os anos 540 e 800 d.C. A novidade foi divulgada no jornal britânico The Independent
Esse período coincide com um evento de resfriamento climático extremo, conhecido como Pequena Idade do Gelo Antiga, que coincide com o colapso da autoridade romana no Ocidente.
Pesquisadores sugerem que a abrupta queda de temperatura pode ter sido um fator decisivo para a desestabilização de um império já enfraquecido por crises internas e externas.
A nova pesquisa, liderada por cientistas da Universidade de Southampton (Reino Unido), da Queen’s University (Canadá) e da Academia Chinesa de Ciências, aponta que a era glacial foi provavelmente desencadeada por três grandes erupções vulcânicas consecutivas. As nuvens de cinzas lançadas na atmosfera teriam bloqueado a luz solar e provocado uma queda significativa nas temperaturas globais.
Há muito tempo os historiadores debatem o papel das mudanças climáticas no colapso do Império Romano", afirmou uma porta-voz da Universidade de Southampton ao Independent.
"Este estudo fortalece a hipótese de que um curto, porém severo, período de resfriamento pode ter precipitado uma série de migrações em massa que alteraram profundamente o cenário político e social da Europa", conclui.
O professor Tom Gernon, especialista em ciências da Terra e coautor do estudo, reforçou ao jornal: "Essa mudança climática pode ter sido a gota d’água para um império já à beira do colapso".
O estudo, publicado na revista científica Geology, analisou rochas encontradas em um terraço de praia elevado na Islândia. Segundo o principal autor, o professor associado Christopher Spencer, os pesquisadores perceberam que os tipos de rochas eram diferentes de qualquer outro material geológico da ilha.
Utilizando uma análise de zircões — cristais minerais minúsculos contidos nas rochas —, a equipe conseguiu rastrear a origem do material até regiões específicas da Groenlândia, comprovando que essas pedras foram transportadas por icebergs durante o século 7.
É a primeira evidência direta de que grandes blocos rochosos foram levados da Groenlândia até a Islândia por meio de icebergs", explicou Spencer.
Gernon complementou: "As rochas apresentam sinais de terem sido coletadas por geleiras ao atravessar diferentes regiões geológicas da Groenlândia. À medida que o gelo avança, ele arrasta consigo uma mistura variada de fragmentos rochosos, que eventualmente se desprendem e são deixados para trás".
A descoberta não apenas fornece novas pistas sobre o impacto das mudanças climáticas na história humana, mas também ilustra como fenômenos naturais distantes podem desencadear transformações profundas em civilizações inteiras.