Mesmo com novas propostas ,como o teclado KALQ, o tradicional layout criado por Sholes persiste, mais por hábito cultural do que por eficiência
Poucos anos após o lançamento dos primeiros smartphones, uma proposta ousada surgiu com a promessa de revolucionar a digitação em dispositivos móveis: o teclado KALQ.
Projetado especificamente para uso com os polegares em smartphones e tablets, o sistema dividia a tela para maximizar a agilidade. Ainda assim, mesmo com avanços tecnológicos, o teclado QWERTY, cujo nome se deve às seis primeiras letras da fileira superior de teclas, criado há mais de 150 anos, segue dominante.
Originalmente desenvolvido por Christopher Latham Sholes, jornalista e inventor amador, o layout QWERTY surgiu junto das primeiras máquinas de escrever, na década de 1860.
Ao contrário do que muitos pensam, ele não foi necessariamente projetado para evitar travamentos mecânicos, como diz uma teoria popular. Pesquisadores da Universidade de Kyoto defendem que o arranjo atendeu, na verdade, às necessidades de operadores de telégrafo, que enfrentavam dificuldades para transcrever mensagens em código Morse com um teclado alfabético.
O QWERTY se consolidou em 1870 quando Sholesvendeu seu projeto para a Remington, que passou a produzir máquinas de escrever em escala. Junto à fabricação, a empresa oferecia cursos de digitação — criando um ecossistema onde aprender QWERTY significava, automaticamente, usar seus produtos.
A partir de 1874, a Remington passou a comercializar uma máquina de escrever por US$ 125. O equipamento contava com mais de 40 teclas e um layout de letras que, embora pouco intuitivo, teria sido projetado para evitar falhas mecânicas nas delicadas engrenagens da época. Nesse contexto, a função moldava a forma: o teclado não apenas operava a máquina, como também instruía o datilógrafo.
Já em 1891, a empresa divulgava que mais de 100 mil unidades de suas máquinas estavam em uso nos Estados Unidos. Apenas dois anos depois, em 1893, o futuro desse padrão foi selado: a fusão entre os principais fabricantes de máquinas de escrever, incluindo a própria Remington, deu origem à Union Typewriter Company, que oficializou o QWERTY como o layout dominante — status que ele mantém até os dias de hoje.
Desde então, surgiram tentativas de superar o QWERTY. O teclado Dvorak, nos anos 1930, prometia maior eficiência e conforto, mas não conseguiu espaço suficiente para desbancar o tradicional.
Hoje, o KALQ tenta repetir essa façanha no ambiente digital, adaptando o teclado ao gesto moderno de digitar com os polegares. Ainda assim, sofre com o mesmo problema: a dependência de trajetória. Milhões já aprenderam a digitar em QWERTY, e mudar exige reaprender algo profundamente enraizado.
O curioso é que, em pleno 2025, mesmo em telas sensíveis ao toque, onde as limitações mecânicas desapareceram, continuamos a usar um layout que remonta ao século 19. Segundo a 'Smithsonian Magazine', essa persistência ilustra como as decisões do passado moldam o presente, mesmo que a tecnologia evolua.
Se você tivesse um iPad em mãos e precisasse inventar um novo sistema de escrita, sem nunca ter usado um teclado, provavelmente criaria algo completamente diferente. Mas, por enquanto, seguimos fiéis ao velho QWERTY — porque mudar, ainda dá mais trabalho do que manter tudo como está.