Um dos líderes católicos que mais defendeu a autoridade papal, certa vez escreveu em um de seus decretos: "Toda criatura humana [estava] sujeita ao pontífice romano"
O Papa Bonifácio VIII (1294-1303) não estava preocupado em salvar sua alma, ele queria governar sua vida — e o mundo. Assim, se tornou um dos líderes católicos que mais defendeu fervorosamente a autoridade papal.
Foi com ele, inclusive, que surgiu a expressão "quem cala consente" em uma de suas decretais — as cartas oficiais dos papas medievais em resposta a consultas populares sobre questões jurídicas e morais.
O que o líder do clero decidia acabava virando lei", afirma Ricardo da Costa, historiador e professor da Universidade Federal do Espírito Santo e da Universidade de Alicante, na Espanha.
Devido suas bulas e decretos, Bonifácio VIII começou uma disputa com o Rei Filipe IV da França, sobre a capacidade do governo de tributar membros do clero. O papa havia isentado a igreja de pagar impostos e declarou que os poderes papais eram superiores aos dos reis.
Toda criatura humana [estava] sujeita ao pontífice romano", declarou em um de seus decretos, recorda a Times.
Com o poder que achava ter, enviou mercenários para destruir castelos alheios, saqueando e queimando a cidade italiana de Palestrina, em 1298, que culminou com a morte de seis mil pessoas.
Também passou a confiscar todas as propriedades da proeminente família italiana Colonna; dividindo suas terras entre seus familiares. A família Colonna, inclusive, sequestrou Bonifácio VIII e exigiu sua abdicação.
O papa foi mantido em cativeiro por vários dias, sendo espancado e quase executado, mas acabou libertado com a ajuda de moradores locais. Um mês depois, faleceu em Roma, em 11 de outubro de 1303, aos 73 anos.
Bonifácio VIII também arrumou briga com Dante Alighieri, que fora exilado por apoiar as limitações papais. Tanto que é que, mesmo com o papa ainda vivo, o autor publicou Divina Comédia colocando-o em sua versão do Inferno.
Bonifácio VIII havia ganho fama como o papa ateu que queria dominar o mundo. Segundo o historiador britânico John McCabe, ele teria afirmado diante de bispos, arcebispos e o rei: "Nunca existiu Jesus, e a hóstia é só água e farinha. Maria não era mais virgem que minha própria mãe, e não existe mais problema em adultério que em esfregar uma mão na outra".