Conjunto de mais de mil peças de bronze, conhecido como "Bronzes de Benin", sempre foi envolto em mistério sobre a origem do metal; confira!
Éric Moreira sob supervisão de Giovanna Gomes Publicado em 11/04/2023, às 09h59 - Atualizado em 14/04/2023, às 19h55
Os 'Bronzes de Benin' representam um conjunto de mais de mil obras comemorativas feitas de bronze da África Ocidental, produzidas com os formatos de cabeças, placas e até estatuetas, entre os séculos 16 e 19 pelo povo Edo, que vivia onde hoje se encontra a Nigéria. E, recentemente, pesquisadores fizeram uma descoberta muito surpreendente em torno dessas obras.
Segundo repercutido pela Revista Galileu, até não muito tempo atrás acreditava-se que o bronze — uma liga metálica geralmente feita com uma mistura de cobre e estanho, zinco ou alumínio — utilizado nas obras era obtido a partir de pequenos anéis de latão, conhecidos como manilhas, que eram amplamente utilizados como moeda de troca na região. Porém, novos estudos revelaram que o material era originário, na verdade, de onde hoje se encontra a Alemanha.
Para determinar a origem do bronze utilizado nas obras africanas, pesquisadores da Universidade de Tecnologia Georg Agricola analisaram quimicamente 67 manilhas recuperadas de cinco naufrágios do Atlântico e três locais terrestres na Europa e na África. Então, a partir da identificação das assinaturas de isótopos de chumbo, foi possível estabelecer uma relação entre aquele metal e o presente em outras peças anteriores ao século 18 — como, inclusive, manilhas usadas no comércio português.
Assim, conforme divulgado no estudo publicado na PLOS ONE, as composições de oligoelementos das manilhas africanas e européias indicaram grande compatibilidade com os minérios encontrados onde hoje fica a Renânia, uma região da Alemanha Ocidental. Ou seja, a origem do material utilizado nos 'Bronzes de Benin', até então desconhecida e realmente um mistério, seria das terras germânicas.
O latão usado para as obras-primas — há muito pensado vir da Grã-Bretanha ou dos Flandres — foi extraído do oeste do país. As manilhas eram então embarcadas por mais de 6.300 quilômetros até o Benim", explicou, em nota à imprensa, o líder da pesquisa, Tobias Skowronek.
No comunicado, Skowronek também destaca que essa é a primeira vez que foi estabelecida cientificamente uma prova de que o bronze africano tinha origem alemã: "Os Bronzes de Benim são as obras de arte antigas mais famosas de toda a África Ocidental. De onde veio o bronze deles tem sido um mistério. Finalmente, podemos provar o totalmente inesperado."
No momento, o projeto tem como objetivo analisar outras mercadorias dessa época a fim de compreender mais detalhes sobre o comércio atlântico inicial. Agora, porém, os cientistas envolvidos trabalham com a ideia de que as manilhas portuguesas provavelmente não eram a única fonte metal para a confecção dos 'Bronzes de Benin', e por isso ainda existem muitas perguntas a serem respondidas.