Neonazistas desfilam com o objeto no peito e fazem muita gente se perguntar: seria a cruz algo que remete diretamente à experiência hitlerista?
Se você perguntar aos neonazistas, a resposta provavelmente é sim. Ou, ao menos, não faltam imagens deles desfilando com ela, acompanhada ou não pela suástica:
Mas, se você perguntar aos alemães — principalmente aos militares — terá uma resposta bem diferente:
Isso pois a Cruz de Ferro ainda é plenamento usada como insígnia das diversas armas da Bündeswehr, as forças armadas da Alemanha democrática.
O fato é que o símbolo é muito anterior ao nazismo. A medalha física surgiu em 1813, durante as Guerras Napoleônicas, no reino da Prússia. Foi herdada pela Alemanha unificada em 1870 e usada amplamente na Primeira Guerra. Sua inspiração foi a cruz dos Cavaleiros Teutônicos, que moveram cruzadas contra os pagãos do Mar Báltico (e vários cristãos no caminho).
Na Primeira Guerra, a medalha tornou-se a insígnia da Alemanha, estampada em veículos terrestres e aéreos. Em março de 1918, foi modificada para a forma reta, porque a tradicional era quase um alvo: dava visibilidade demais aos aviões, uma vantagem ao inimigo.
Essa forma seria mantida no período nazista :
E a medalha, reinstaurada em 1939, ganhou uma suástica no meio:
11 anos após o fim da guerra, em 1957, o governo da Alemanha Ocidental ordenou a troca das cruzes de ferro dadas no período nazista por versões novas, sem a suástica. As versões originais acabaram caindo nas mãos de colecionadores. E aí começa outra parte da história: seu uso pela contracultura.
Nos anos 60, a Cruz de Ferro foi adotada por motoclubes. Junto com ela vieram elmos ao estilo alemão (o icônico pickelhaube). E, sim, suásticas.
A ideia era chocar os reacionários e a sociedade comum. Nos anos 70, punks também usaram suásticas como provocação. Nada podia ser mais detestável à geração que lutara na Segunda Guerra.
Com neonazistas de verdade entrando em evidência, a suástica se tornou exclusiva deles. Quanto à cruz, ela ficou. Se você perguntar aos ciclistas, aos skatistas, aos fãs da kultura kustom, aos fãs da banda Motörhead — várias subculturas, enfim, que adotaram a Cruz de Ferro — ela não tem nada a ver com nazistas.
Talvez a palavra final possa ficar com o lado mais afetado. A Liga Antidifamação, criada por judeus americanos para denunciar o neonazismo e episódios antissemitas, abordou a questão se a Cruz de Ferro é um símbolo ódio. Eis o que disseram:
"O uso da Cruz de Ferro num contexto não racista proliferou enormemente nos Estados Unidos, ao ponto em que uma Cruz isolada (isto é, sem uma suástica sobreposta ou acompanhada por outros símbolos de ódio) não pode ser determinada como um símbolo de ódio. Cuidado deve ser tomado para interpretar corretamente este símbolo em qualquer contexto em que seja encontrado."
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