Conheça os sofrimentos dos escravos durante a travessia
Palavras como "desumano" ou "infernal" não fazem justiça ao horror puro, cru e abjeto de um navio negreiro. É difícil encontrar algo comparável na História quando humanos tiveram de passar por um sofrimento comparável - talvez os campos de morte nazistas, com a diferença fundamental que os navios negreiros queriam suas vítimas - na medida do possível - vivas. Medida essa bem pequena, quando a altíssima margem de lucro mais que compensava pelas perdas no caminho - que eram, aliás, seguradas por bancos, retornando qualquer prejuízo em caso de "acidentes".
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Países como o Brasil dependiam dos escravos, e muito papel foi gasto para justificar o injustificável, a instituição da escravidão. Mesmo naquela época, o negócio era universalmente considerado desprezível. Marinheiros de outros navios tinham horror aos navios negreiros, ou por decência humana ou por pura repulsa física. Dizia-se que era possível reconhecer um navio negreiro pelo cheiro de suor, excremento e morte. Os próprios marinheiros desses navios evitavam quanto podiam descer aos conveses de "carga". Outra razão por que ninguém queria trabalhar num navio negreiro era a alta periculosidade do negócio: uma tripulação de 30 pessoas tinha que lidar com a possibilidade de motim por centenas de cativos.
Outro risco surgiu em 1807, quando os ingleses aboliram o tráfico em suas possessões e progressivamente passaram a perseguir todo navio negreiro no Atlântico. O Brasil cedeu às pressões britânicas e aboliu o tráfico em 1850. A Lei Eusébio de Queirós, que sancionou a proibição, deu origem ao termo "para inglês ver": sem fiscalização, o tráfico continuaria até a abolição final, em 1888.