Cossacos deram gargalhadas diante das ameaças do sultão otomano; aprenda mais sobre eles
A história talvez seja apócrifa – ela só é conhecida por meio de uma cópia da carta, datada do século 18.
Em 1675, os cossacos de Zaporogian – uma região semiautônoma do centro da Ucrânia – derrotaram as forças do sultão Mehmed IV em batalha. No lugar de se resignar com a derrota, o líder otomano mandou a eles um ultimato, exigindo que se rendessem e o aceitassem como seu monarca. Os cossacos, com seu agudo senso de independência, responderam com o que é provavelmente a carta mais deliciosamente grosseira da história.
Na década de 1870, a cópia da carta foi parar nas mãos do historiador cossaco Dmytro Yavornytsky, que jocosamente passou a lê-la a seus convidados. Um deles caiu de ser o pintor Ilya Repin, que ficou imediatamente fascinado e passou 11 anos pintando sua obra-prima, concluída em 1891. O quadro seria vendido ao czar Alexandre III por 35 mil rublos, a mais cara pintura russa da História até então.
Quanto ao Sultão... não há registros de a carta ter chegado. O que é compreensível: quem se candidataria a entregá-la? Também é difícil de imaginar um historiador otomano escrevendo sobre um episódio assim e continuando com a cabeça sobre os ombros. Mehmed IV voltaria sua atenção a outros inimigos, continuando a atacar cristãos, levando o Império Otomano à sua máxima extensão na Europa. Ele seria barrado em Viena, 1683, numa catastrófica derrota para os hussardos poloneses.
A carta do sultão e a resposta dos cossacos vão abaixo. O original ucraniano e uma versão em inglês podem ser lidos aqui. Como ela é pesadíssima em grosserias, palavrões e outras expressões de baixo calão, damos duas opções - uma versão "educada" e a tradução mais fiel.
Veja na galeria ao final (ou abra o infográfico acima para ver) detalhes no quadro Ilya Repin que mostram a fascinante vida dos cossacos.
Carta de Mehmed IV aos cossacos
Como o sultão; filho de Maomé; irmão do sol e a lua; neto e vice-rei de Deus; governante dos reinos da Macedônia, Babilônia, Jerusalém, Alto e Baixo Egito; imperador dos imperadores; soberano dos soberanos; cavaleiro extraordinário, nunca derrotado; guardião incansável da tumba de Jesus Cristo; delegado escolhido por Deus em pessoa; a esperança e conforto dos muçulmanos; cofundador e grande defensor dos cristãos – Eu ordeno a vocês, os cossacos zaporogianos, que se submetam a mim voluntariamente e sem qualquer resistência, e que desistam de me perturbar com seus ataques.
Resposta "educada"
Cossacos zaporogianos ao sultão turco!
Oh sultão, demônio turco e maldito amigo e parente do diabo, secretário do próprio Lúcifer. Que diabos de cavaleiro é você, que não pode matar um porco-espinho com seu traseiro pelado? O diabo excreta e seu exército come. Não ireis, filho de uma cadela, fazer de súditos os filhos dos cristãos; nós não temos medo de seu exército, por terra e mar iremos combater a ti, e que se dane sua mãe.
Sois um serviçal babilônico, fazedor de rodas macedônico, cervejeiro de Jerusalém, come-cabras de Alexandria, criador de porcos do Alto e Baixo Egito, porco da Armênia, ladrão podoliano, pederasta passivo do Tártaro, carrasco de Kamyanets, e bobo da corte de todo o mundo e submundo, um idiota perante Deus e neto da Serpente, câimbra de nosso falo. Nariz de porco, rabo de égua, vira-latas de abatedouro, testa sem crisma, que se ferre você e sua mãe!
Assim os zaporogianos declaram, oh fracassado. Não irás nem mesmo criar porcos para os cristãos. E agora concluímos, pois não sabemos a data e não temos calendário; a lua está no céu, o ano está com o Senhor, o dia é o mesmo aqui que aí, e por isso beije nossa bunda!
- Koshovyi Otaman* Ivan Sirko, com toda a comitiva zaporogiana.
*Patente militar entre os cossacos.
A vida dos cossacos