Abaporu, famoso quadro de Tarsila do Amaral, símbolo da arte brasileira, não faz parte de um acervo tupiniquim há décadas
A Semana de Arte Moderna de 1922 completou seu centenário em 2022, tendo os personagens que compuseram o enaltecimento do modernismo homenageados com exposições e citações em diversos âmbitos.
Contudo, a obra mais famosa do modernismo, quebrando padrões estéticos ligados ao academicismo e afastada dos princípios de proporcionalidade, a pintura 'Abaporu', de Tarsila do Amaral, não está em terras tupiniquins, por mais que a artista e o movimento tenha sido sediado no Brasil.
Ao contrário de sua origem, o quadro compõe o acervo do Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires (Malba), na capital da Argentina, desde o ano de 2001, quando a instituição foi fundada — e se engana quem acredita que a obra foi dada de presente aos hermanos.
Antes de chegar no país vizinho, a peça de arte passou por diversas mãos e chegou a ser negociada internacionalmente, sempre em quantias que impressionam, tanto positivamente quando negativamente, conforme relatou Tarsilinha, sobrinha neta da autora de 'Abaporu', ao portal Nossa, do UOL.
Concluída em 1928, a obra foi um presente da artista para o marido Oswald de Andrade, que acabou a devolvendo no processo de separação. Mesmo assim, a expôs por anos, em diversas galerias, até receber uma proposta de Pietro Maria Bardi, colecionador e negociador de arte que auxiliou Assis Chateaubriand a criar o Museu de Arte de São Paulo (MASP).
De acordo com a sobrinha neta, no entanto, Tarsila foi seduzida com a ideia de que o quadro ficaria no MASP, vendendo por um preço muito abaixo do que valia: "Um mês depois, chegou a notícia, por um amigo, de que o Abaporu tinha sido vendido para um colecionador particular por uma fortuna. Ou seja, o Bardi ficou com esse dinheiro. Quando ela ficou sabendo disso, passou mal, ficou super chateada".
O comprador da obra, que não teve a identidade divulgada, vendeu novamente em 1984 para Raul Forbes, que compunha o Conselho da Bolsa de Valores. Com ele, autoridades tentaram tombar o quadro como patrimônio histórico, complicando sua retirada do país durante mais uma venda, em 1995.
Mesmo assim, acabou leiloado em Nova York para o argentino Eduardo Constantini, que fundou o Malba e adicionou a obra nas exposições do local desde seu primeiro dia de funcionamento, até os dias atuais. Na época da compra, a obra alcançou aproximadamente US$ 1,5 milhão, sendo a primeira de origem brasileira a ultrapassar 1 milhão de dólares.