As adolescentes holandesas eram membros importantes da resistência contra os nazistas
Quando se pensa na resistência contra os nazistas, os primeiros nomes a vir à cabeça normalmente são de homens adultos, como o pastor alemão Dietrich Bonhoeffer. Mas poucos sabem que, na Holanda ocupada, três meninas adolescentes se tornaram o terror dos soldados de Hitler e de holandeses “vira-casaca” em Amsterdã durante a Segunda Guerra Mundial.
Uma das estratégias das jovens, que eram parte de uma célula do Conselho de Resistência de Haarlem, era usar a aparência jovial como uma arma para flertar com soldados nazistas, atraindo-os para um passeio na floresta. Antes mesmo que os inimigos de guerra tentassem beijá-las, eles eram executados.
Nem todas as mortes ocorreram por meio de flertes. Tanto Hannie Schaft quanto as irmãs Truus e Freddie Oversteegen estavam envolvidas em planos para sabotar pontes e linhas ferroviárias, e, às vezes, as adolescentes atacavam seus alvos de bicicleta, para poder fugir de modo mais rápido.
Para saber mais sobre essa história fascinante, confira cinco curiosidades sobre o trio antinazista das adolescentes holandesas através de informações da Time:
Hannie Schaft tinha 18 anos e havia largado a faculdade de Direito por se recusar a prestar lealdade à Alemanha. Quando entrou na resistência, ela conheceu as irmãs Truus e Freddie Oversteegen. Enquanto a primeira tinha 16 anos, Freddiesó tinha 13, mas mesmo assim encarava os nazistas ao lado de sua irmã mais velha e Hannie.
A pouca idade não a impedia de participar ativamente, essencial para mapear as missões do trio, que poderiam envolver o roubo de papéis e documentos vitais, plantar bombas em ferrovias e, além das seduções e execuções, levar crianças judias à locais seguros.
Freddie também foi a primeira a atirar e matar alguém. De acordo com seu filho, RemyDekker, a mãe provavelmente tinha entre 15 e 16 anos quando realizou o ato.
Hannie Schaft, a mais velha do trio, era conhecida como “a garota do cabelo vermelho”, por causa de suas madeixas ruivas. Foi por causa dessa fama que ela foi reconhecida pelos nazistas e executada no dia 17 de abril de 1945, quando tinha 24 anos.
Hannie foi morta só 18 dias antes de a Holanda ser libertada. As irmãs Oversteegen criaram, em 1996, a Fundação Hannie Schaft, em homenagem à amiga e companheira de luta, promovendo seu legado de combate do nazismo.
A mãe de Truus e Freddie as ensinou, desde crianças, a lutar contra o fascismo. No livro "Under Fire: Women and World War II", a antropóloga Ellis Jonker conta que, de acordo com relato da caçula, a mãe as incentivava a fazer bonecas de pano para dar a crianças que estavam sofrendo com a Guerra Civil Espanhola.
Além disso, e apesar de viverem na pobreza, a família Oversteegenabrigava judeus e outros perseguidos no sótão de sua casa. Quando o país foi dividido, os refugiados precisaram se mudar para outro lugar, já que a residência provavelmente seria alvo de buscas devido ao engajamento da família.
Em um relato concedido à autora holandesa e ativista dos direitos femininos Sophie Poldermans publicado na revista Time, Truus contou uma história que exemplifica a violência e brutalidade do regime nazista.
Truus conta que viu um soldado nazista holandês matando um bebê batendo ele com força em uma parede. O assassino fez o pai e a irmã do pequeno bebê assistirem, histéricos. Nessa hora, Truus atirou no nazista. Ela explica que não foi uma missão, mas que ela não se arrepende.
As irmãs Oversteegen sobreviveram à guerra, mas a vida delas nunca foi a mesma. De acordo com Poldermans, as duas provavelmente sofriam do que hoje seria chamado de TEPT, ou transtorno de estresse pós-traumático.
Ambas precisavam conviver com traumas que eram expressos em pesadelos severos, contra os quais elas gritavam e lutavam mesmo dormindo. Sobre as execuções que elas tiveram que realizar, Truus comenta:
Não acreditávamos que nos adaptaríamos, ninguém nunca se adapta, a menos que você seja um verdadeiro criminoso... Você perde tudo. Envenena as coisas bonitas da vida”.
No episódio #59 do podcast ‘Desventuras’, o professor de História e mente por trás do podcast ‘História em Meia Hora’ Vítor Soares, comenta sobre a famosa obra “O Menino do Pijama Listrado”, famoso livro de John Boyne que virou filme, e explica por que ela não é a mais adequada para aprender sobre o período. A história pode ajudar a perpetuar falácias perigosas sobre o nazismo.
Quer entender mais? Ouça abaixo: