Às vezes, o sucesso de filmes inspirados em histórias reais podem não só trazer alegria aos cineastas, mas também enfurecer familiares
Publicado em 24/09/2024, às 21h00
Muitas vezes, quando assistimos filmes "inspirados em histórias reais", independente do gênero — desde o terror até o suspense, romance ou mistério —, ficamos curiosos sobre as figuras representadas.
Se por um lado os envolvidos na produção do filme ficam contentes com um sucesso, nos casos de filmes inspirados em histórias reais às vezes acontece o oposto. Seja por más representações, alterar os fatos em torno de alguém ou mesmo fantasiar completamente em torno de uma personalidade, não é incomum que familiares de algumas pessoas reclamem de filmes.
Confira a seguir 5 filmes baseados em fatos que enfureceram pessoas na vida real:
Um dos maiores sucessos cinematográficos de todos os tempos, 'Titanic' bateu recordes de bilheteria após seu lançamento, em 1997, tornando-se uma das histórias de romance mais consagradas de Hollywood. E, o grande fascínio pelo filme não se deve apenas à inegável qualidade técnica de James Cameron, mas também por se inspirar no verdadeiro naufrágio do transatlântico RMS Titanic, de 1912.
Embora a trama romântica entre Jack e Rose seja ficcional, vários personagens (como membros da tripulação) do filme são baseados em figuras reais, inclusive utilizando os verdadeiros nomes. Porém, o filme não agradou tanto aos familiares de William Murdoch, o Primeiro Oficial a bordo, que comandava o navio quando ele colidiu com o iceberg.
No filme, o personagem aceita suborno de pessoas ricas para garantir um assento nos botes salva-vidas, e até mesmo usa sua arma contra passageiros em pânico; no fim, ele tira a própria vida com um tiro na cabeça. Porém, não há provas de que Murdoch fez todas essas coisas — ele não sobreviveu —, apenas alguns relatos incertos de marinheiros não específicos que podem ter cometido tais atos.
Lançado em 2018, 'Green Book: O Guia' foi vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2019. Fora escrito por Nick Vallelonga, filho mais velho de Frank Vallelonga Jr., que dá vida a Tony Lip — um dos personagens centrais no filme —, um segurança contratado para proteger o pianista Donald Shirley, em uma história que fala sobre a segregação racial dos Estados Unidos no início da década de 1960, e o início do Movimento pelos Direitos Civis.
No entanto, a família de Donald Shirley, um homem negro (e interpretado por Mahershala Ali) considerou o filme "na melhor das hipóteses, um insulto" à sua história, ressaltando que os dois homens nunca nutriram amizade, como as cenas mostram. Uma sobrinha do pianista até mesmo disse que o filme é como "a visão de um homem branco da vida de um homem negro".
Filme mais recente de Quentin Tarantino, 'Era uma Vez em... Hollywood' foi aclamado pela crítica ao contar uma história em torno da turbulenta Hollywood do fim da década de 1960.
Nesse cenário, várias figuras famosas foram retratadas, como o próprio ator e artista marcial Bruce Lee — que, diga-se de passagem, foi mostrado como um homem arrogante, justamente o que não agradou seus familiares.
Em entrevista ao The Wrap, Shannon Lee, filha de Bruce, revelou que nunca foi consultada pelo cineasta para falar sobre seu pai, e que se aborreceu pela representação de um "babaca arrogante", em vez de "alguém que teve de lutar três vezes mais para realizar o que naturalmente foi dado aos outros".
Com a controvérsia, Tarantino chegou a responder essas afirmações em entrevista à Variety: "Bruce Lee era um cara um tanto arrogante. A maneira como ele se expressou, eu não inventei. Eu o ouvi dizer coisas assim. As pessoas afirmam que ele nunca disse que poderia vencer Muhammad Ali, e bem, ele disse. Até mesmo a sua esposa, Linda Lee, relatou isso na sua primeira biografia".
+ Por que Bruce Lee foi retratado de maneira polêmica em filme de Tarantino?
Lançado em 2019, 'Tolkien', dirigido por Dome Karukoski, se propõe a ser um filme biográfico sobre o lendário escritor J. R. R. Tolkien, criador do universo de 'O Senhor dos Anéis' e considerado como o pai da fantasia moderna por muitos.
Porém, um aspecto do filme é que ele explora apenas a juventude do britânico, sem conseguir englobar todos os aspectos que compõem sua história e o influenciaram, como a Primeira Guerra Mundial e suas influências criativas.
Desde o início da produção do filme, a Fundação Tolkien e a família do escritor desaprovaram o trabalho. "A família e a fundação desejam esclarecer que não endossaram, autorizaram ou participaram da realização do filme de forma alguma", afirma um comunicado emitido pela fundação.
Dirigido por Ron Howard e protagonizado por Russell Crowe, 'A Luta pela Esperança' (2005) conta a história do verdadeiro boxeador Jim Braddock, que foi obrigado a se aposentar prematuramente após uma sequência de derrotas no ringue, mas que, após conseguir três vitórias seguidas, consegue o apelido de "Cinderella Man".
Porém, tudo fica muito mais tenso quando ele precisa enfrentar seu pior oponente, o então campeão mundial dos pesos pesados Max Baer (Craig Bierko), que até mesmo matou dois lutadores no ringue.
Mas, a representação não agradou aos herdeiros de Baer: seu filho expressou, na época do lançamento, descontentamento com a imagem de bruto sanguinário com a qual seu pai foi mostrado nas telonas.
"Tenho grande respeito por Ron Howard, mas ele nunca me ligou para pedir informações factuais sobre meu pai. Eles distorceram completamente seu caráter. Eles não precisavam fazer dele um ogro para fazer de Jim Braddock um herói. Meu pai chorou sobre o que aconteceu com Frankie Campbell; ele tinha pesadelos com isso. Ele até ajudou a levar os filhos de Frankie ao ensino médio", já disse o filho de Baer em entrevista.
