Encontrada na ilha grega de Milo, a obra fascina diferentes gerações
Entre os muitos mistérios do mundo da arte, as esculturas gregas são algumas das peças mais intrigantes. Esculpidas, perdidas, roubadas e restauradas, as obras de mármore ou cobre contam uma história antiga, que seria uma incógnita caso contrário.
Com o passar do tempo, mais e mais descobertas foram feitas acerca das estátuas e, com isso, tornou-se mais fácil entender seus contextos. Dessa forma, entendemos melhor as técnicas usadas em cada período e criamos as escolas artísticas.
Entretanto, existem algumas esculturas que até hoje são cercadas por indagações e perguntas sem respostas. Uma delas, se não a mais influente, é a Vênus de Milo.
São muitas as histórias acerca da Vênus de Milo, mas a mais aceita, comprovada por documentos históricos, afirma que ela foi encontrada em 8 de abril de 1820. Feita de mármore, a peça que conhecemos hoje, sem os dois braços, um dia já esteve íntegra.
Segundo os registros, a escultura foi descoberta por Yorgos Kentrotas, um camponês da ilha de Milo — daí o nome da peça. No dia, de acordo com Marianne Hamiaux, o homem escavava o local a fim de encontrar pedras quando se deparou com a obra.
Por um acaso do destino, Olivier Voutier, um cadete naval francês, estava próximo de Kentrotas quando a Vênus surgiu do chão. Entusiasta em arqueologia, ele pediu que o camponês continuasse cavando.
“Vendo-o parar e olhar para o fundo do buraco, fui até ele”, narrou o cadete. “Havia desenterrado a parte superior de uma estátua em muito boas condições. Ofereci-lhe pagamento para que continuasse a escavação.”
Depois disso, sob ordens do vice-cônsul da França em Milo, Louis Brest, as explorações continuaram e outros fragmentos foram retirados do solo. Por muito tempo, imaginou-se que as partes encontradas pertenciam à Vênus.
Para Jules Dumont d'Urville, um outro cadete francês, todas as características da escultura indicavam que ela representava a “Vênus no julgamento de Páris; mas, neste caso, onde estarão Juno, Minerva e o belo pastor?". Era mais um mistério.
Em 1821, o Marquês de Rivière, dono da obra desde o ano de sua descoberta, ofereceu a Vênus ao rei Luís XVIII. O monarca, por sua vez, doou a escultura para o Museu do Louvre, onde ela é exposta até hoje.
Uma vez no museu, a estátua foi estudada e analisada por diversos especialistas. A ideia era descobrir mais sobre ela e, assim, traçar sua verdadeira história, sem mais buracos ou peças perdidas.
Assim, a primeira hipótese surgiu: ela foi provavelmente criada por Alexandre de Antioquia, um artista do período helenístico. Por mais que a resposta seja amplamente aceita, entretanto, é difícil determinar o verdadeiro autor.
Sem contar que descobrir o nome de quem a esculpiu não responde metade das perguntas que cercam a obra desmembrada. Para muitos, ficou óbvio que a Vênus de Milo é uma obra grega, já que as técnicas usadas no mármore refletem a época.
Quatremère de Quincy, secretário permanente do Instituto de Belas Artes, todavia, afirmou que a escultura veio da escola de Praxíteles. Segundo o especialista, ela remonta a meados do século 4 a.C..
Éméric-David, historiador de arte, por sua vez, concordou com teorias anteriores. Para ele, a Vênus conta o episódio do concurso de beleza julgado por Páris, e tem uma origem um pouco mais antiga, de um período intermediário entre Fídias e Praxíteles.
O Museu do Louvre, buscando colocar um fim em todas as dúvidas, anunciou que a Vênus de Milo vinha da escola de Praxíteles. Ainda mais, a instituição nega a autoria e afirma que a escultura é uma criação helenística do final do século 2 a.C..
Existem, ainda, dúvidas acerca da real imagem que a obra representa. Para muitos, a estátua, na verdade, pode ser uma imagem de Anfitrite, Diana ou Danaíde. De qualquer forma, a escultura, com ou sem braços, é uma das mais famosas do museu e atraí os olhares curiosos de milhares de visitantes.