Em 1996, o Rei do Pop descia na Bahia para gravar o clipe "They Don't Care About Us", deixando sua marca no Centro Histórico de Salvador
Em 10 de fevereiro de 1996, Michael Jackson descia em terras tupiniquins pela terceira vez, mas dessa vez, não era em turnê; o Rei do Pop fazia questão de enaltecer o calor humano brasileiro com os problemas sociais evidentes de duas localizações desprovidas de amparo social — favelas do Rio de Janeiro e de Salvador.
A música escolhida para ter as comunidades brasileiras como ilustração era a composição “They Don’t Care About Us” (“Eles não ligam para nós”, em tradução livre), que falava sobre o desamparo governamental, a violência policial e a necessidade de manifestações, citando Franklin Roosevelt eMartin Luther King.
A visita, inicialmente contestada pelo então secretário estadual de Comércio e Turismo do Rio de Janeiro, Ronaldo Cezar Coelho, alegando que a produção poderia influenciar a imagem do Brasil de maneira negativa, acabou sendo autorizada pelo Itamaraty, que não apenas autorizou a vinda e captura dos cenários, como destacou que "não se pode tentar esconder uma realidade que existe no país".
Michael no casarão baiano
Enquanto o Olodum fazia cansativos ensaios de sincronia junto ao diretor Spike Lee, a Polícia Militar preparava uma operação ostensiva para receber o cantor americano, de maneira que o mesmo se sentisse seguro. No entanto, Michael não fez ensaios.
No momento que as câmeras começaram a gravar, o músico apenas dançava, cantava e interagia da maneira que sempre fez na carreira, repetindo meticulosos passos de dança enquanto brincava com membros da bateria e com moradores.
Dessa forma, o cantor e o diretor concordaram em entrar em um casarão azul para gravar duas cenas; a saída, dando de cara com os policiais em forma, e uma na varanda, ambos improvisados por Spike na ocasião. Os responsáveis pelo casarão — um casal de italianos — autorizaram sem problemas, possibilitando a entrada das cenas na edição final do clipe.
Por anos, os donos não fizeram questão de explorar a visita de Michael financeiramente, visto que o casarão era tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e já fazia parte do Centro Histórico de Salvador. Na entrada da década de 2000, no entanto, os proprietários possibilitaram o aluguel do local, abrindo a oportunidade para um comerciante enaltecer a memória do músico.
Visando o lucro
O comerciante Carlos Alberto foi o homem responsável por alugar o casarão após juntar dinheiro vendendo máquinas, pilhas, filmes e cervejas. Pagando um valor mensal, o homem passou a comercializar todo tipo de produto personalizado com a figura de Michael Jackson, desde chaveiros, camisetas, chinelos e outros artefatos. Dentro da loja, há um telão instalado, reproduzindo o clipe gravado no casarão em looping.
A visita na varanda, entretanto, foi idealizada por criança, como contou ao jornal A TARDE, em 2015: "Uma menina, uma criancinha, estava aqui comprando com a mãe e pediu para tirar foto na sacada. Aí, eu tive a ideia de fazer esse marketing. Quem compra qualquer coisa pode tirar a foto 'de graça' lá". A prática começou em 2008, mas passou a ter mais visitas no ano seguinte, quando o ídolo faleceu.
Segundo as últimas notícias, o casarão está à venda, avaliado pela última vez em 2015, tendo o valor de R$ 1,1 milhão — quase o dobro do valor de imóveis semelhantes ao redor. No entanto, Carlos continua trabalhando com a imagem do ídolo na localidade.
Quando perguntado sobre onde estava no dia da gravação, o comerciante respondeu de maneira bem humorada: “Eu mesmo perdi tudo, porque não acreditei que ele viria e fui trabalhar”.
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