Com raízes bastante próximas da religião, as instituições de ensino superior passaram por grandes reformas através dos séculos
Ainda que o conceito de “universidade” seja relativamente recente — com sua aplicação à educação superior datando do século 12 — há variedades muito mais antigas de instituições dedicadas a estudos avançados, com raízes em diversas culturas.
Os primeiros centros de ensino superior tinham base na tradição religiosa. O mais antigo identificado é o centro budista Taxila — com origem entre os séculos 5 e 6 a.C. no reino de Gandhar, atual Paquistão. Sua influência se estendeu por mais de 800 anos e, em seu auge, chegou a receber mais de 10 mil jovens da Babilônia, Grécia, Síria, China e Índia.
Lá, os estudantes ingressavam com 16 anos e, no lugar de aulas em grandes auditórios, tinham lições individualizadas das 68 disciplinas oferecidas — que iam de caça, medicina a escola militar e música. Cada professor tinha completa autonomia no seu trabalho, e os estudos terminavam quando o mestre estivesse satisfeito com as conquistas do aluno.
Na Grécia antiga, a busca pelo conhecimento era feita em debates entre pensadores, sem currículo estruturado e com poucos registros escritos — tanto na Academia de Atenas, fundada por Platão, como nos encontros informais dos seguidores de Aristóteles.
O Museu (e a Biblioteca) de Alexandria, no Egito, também atraía inúmeros estudiosos e pensadores, mas não oferecia educação formal. Fundado no século 3 a.C., foi o centro de estudos avançados mais importante do mundo greco-romano.
Com uma educação pouco mais estruturada, o monastério Nalanda, na Índia, oferecia uma vasta gama de disciplinas da tradição budista — como sânscrito, medicina, saúde pública e economia. Fundado no século 5, o campus possuía dez templos, uma biblioteca de nove andares, lagos, parques e acomodação para os estudantes que vinham da Coreia, Japão, China, Pérsia, Tibet e Turquia.
Havia um exame de admissão, e apenas três a cada dez estudantes eram aceitos. A instituição foi saqueada em 1193 pelo Exército turco, e o incêndio em sua biblioteca teria ardido por meses. Na mesma época, o Pandidakterion de Constantinopla, fundado em 425 e reorganizado em cátedras em 848, educava jovens para assumirem posições de liderança no império.
Também conhecida como Universidade do Átrio do Palácio de Magnaura, a instituição é considerada por alguns historiadores como o primeiro centro de educação superior com características das universidades modernas — como independência acadêmica.
As primeiras universidades europeias surgiram de forma independente e quase espontânea, como resposta às circunstâncias e necessidades da época. No final do século 11, estudiosos começaram a se reunir em Bolonha, aos pés de juristas mais experientes, para mirar a antiga Lei Romana como um guia para orientar as novas relações conflituosas entre império, Igreja, reinados, principados, cidades e indivíduos.
A Idade Média, porém, viu o retorno da educação de base religiosa. Na Europa, ordens religiosas e monastérios patrocinavam as escolas, dedicadas somente à educação do clero. Estudantes judeus, especialmente na Europa Central, se instruíam diretamente com eminentes intérpretes do Talmude — a fonte básica da lei judaica.
Entre os séculos 8 e 11, o mundo islâmico criou as madrasas. Nessas instituições, estudantes, auxiliares e mestres viviam juntos por diversos anos em pequenas habitações anexas às mesquitas, estudando o Corão.
Duas madrasas se destacam por terem se tornado universidades e estarem ainda em operação: a Universidade de Al-Karaouine, fundada em 859, no Marrocos, e a Al-Azhar University, fundada em 970 no Egito.
Semelhante, jovens buscavam a Catedral de Notre Dame, em Paris, para estudar artes, filosofia e teologia. Surgiram as universidades de Bolonha, em 1088, e de Paris, em 1150. Pouco tempo depois, foram criadas regulações definindo as obrigações de professores e estudantes, e adotado o termo universitas (que, em latim, designava um grupo de pessoas legalmente reconhecidas como uma coletividade).