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Curiosidades / Religião

Como as pessoas contavam o tempo antes de Cristo?

Era complicado — e os próprios cristãos demoraram para chegar num acordo

Fabio Marton Publicado em 01/08/2019, às 08h00 - Atualizado em 01/05/2022, às 08h00

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Imagem meramente ilustrativa - Pixabay
Imagem meramente ilustrativa - Pixabay

Bem mal. A forma mais comum de contar o tempo, não só no Ocidente como na China e no Japão, era apontar os anos desde o começo do mandato dos líderes – faraós, no caso dos egípcios, cônsules e depois césares, para os romanos, magistrados atenienses, reis espartanos, e imperadores chineses e japoneses.

A maioria das pessoas raramente precisaria falar de um tema além da memória das gerações mais velhas. Mas é fácil ver como isso era um pesadelo para os historiadores. Era preciso consultar longas tabelas de reis e somar manualmente para saber quanto tempo havia se passado entre um evento histórico e o momento atual.

Os historiadores – e somente eles – usavam de soluções praticamente desconhecidas para o público em geral. Os gregos podiam contar desde a primeira Olimpíada, em 776 a.C., datando os anos entre cada Olimpíada como se fossem um reinado. O historiador grego Dionísio de Halicarnasso, por exemplo, datou a fundação de Roma em “1º ano da 7ª Olimpíada”. E os romanos podiam escrever as datas em anno urbis conditae – ano desde a fundação de Roma, em 753 a.C. Mas o problema é que nem todos os historiadores concordavam em quando essa fundação havia acontecido.

Os próprios cristãos não escaparam da bagunça até uma tragédia cair sobre eles: em 284, o imperador Diocleciano ascendeu ao trono, começando a pior perseguição de todas. Surgiu então a ideia de contar os anos desse evento traumático e deixar de lado os césares, que tão mal fizeram. Essa foi a Era dos Mártires, que foi adotada apenas entre clérigos.

Séculos depois, um clérigo, o monge Dionísio, o Exíguo, que vivia na atual Romênia, mostrou-se insatisfeito com cristãos contarem a data a partir de um tirano inimigo. Ele propôs contar-se a partir do nascimento de Jesus, afirmando que fazia 525 anos desde então. Ninguém sabe como o monge chegou a esse número. Só se sabe que errou feio – não se sabe ao certo quando Jesus nasceu, mas é provável que não tenha sido em 25 de dezembro do ano 1.

Mas ninguém notou isso na época – lembre-se da enorme dificuldade em calcular precisamente o tempo dispondo-se apenas de intermináveis tabelas de monarcas. A transição para o ano 1000 causaria um verdadeiro pânico na Idade Média. Em 2000, muitos celebraram os “2000 anos de Jesus”. Mas o aniversário já havia passado.

A ideia de Dionísio demorou para pegar. Só em 731, com as pregações do monge Beda, a datação começou a ser aceita, primeiro na Inglaterra. Portugal seria o último país cristão a adotá-la. Usava-se a idiossincrática Era Hispânica, que começava em 38 a.C. – data obscuramente relacionada à conquista romana da região.