Quanto mais próximo da meia-noite, mais perto do fim. Atualmente, nos restam apenas 100 segundos. Será que o tempo da humanidade acabou?
Thiago Lincolins e Fabio Previdelli Publicado em 16/04/2018, às 15h00 - Atualizado em 18/01/2023, às 12h40
O tempo é relativo. Quando está com quem se ama, horas podem passar em questão de segundos. Ou então minutos podem parecer eternos quando a situação não lhe agrada tanto assim. Mas como medir o quanto tempo a humanidade ainda tem?
Em 1947, o Comitê do Boletim de Cientistas Atômicos da Universidade de Chicago tentou responder essa pergunta. Assim, cientistas criaram o chamado ‘Relógio do Juízo Final’. Quando o ponteiro marcar meia-noite, significa que nosso fim já é certo. Mas ainda será possível atrasar essa contagem?
Os horários começaram a ser medidos faltando sete minutos para as temíveis badaladas. Desde então, diversas atualizações ocorreram ao longo das décadas. A última delas, de 2020, nos colocou para apenas 100 segundos do fim. Nosso tempo, porém, pode ser muito menor.
Afinal, na próxima semana, no dia 24 de janeiro, por volta do meio-dia do horário de Brasília, o Relógio do Juízo Final ganhará uma nova atualização. E o cenário não é nada promissor, visto que neste período não só enfrentamos a pandemia do novo coronavírus como a Rússia também invadiu e entrou em guerra contra a Ucrânia.
Com o ponteiro teimando em correr de forma desenfreada, a aniquilação da humanidade, ironicamente, parece ser só questão de tempo. Saiba mais sobre o Relógio do Juízo Final!
Criado em 1947 pelo Comitê do Boletim de Cientistas Atômicos da Universidade de Chicago, o Relógio do Juízo Final surgiu como resposta ao grande temor da Era Atômica que nascia: a aniquilação nuclear mundial. A mente por trás do projeto foi a artista Martyl Langsdorf, mulher do físico nuclear Alexander Langsdorf.
A ideia é simples: meia-noite é o fim. Quanto mais próximos os ponteiros estiverem das doze badaladas, mais perto o mundo estará da extinção da humanidade. Desde então, os minutos do relógio são adiantados ou retrocedidos quando os cientistas acreditam ter acontecido uma mudança relevante. Desde sua criação, foram 25 vezes:
Não existe um relógio físico. É apenas conceito abstrato, ilustrado nos comunicados ou exibido em decorações temporárias do Comitê e permanentemente exibido no site.
Em sua primeira aparição, o relógio simbólico marcava sete minutos para a meia-noite. A segunda atualização foi realizada em 1949, quando Alexander ajustou o tempo para quatro minutos à frente, três para meia-noite, por conta do primeiro teste nuclear soviético.
A partir de 2007, ele também considera a mudança climática e o que está sendo ou não feito a respeito dela. Na última atualização, em 23 de janeiro de 2020, os ponteiros foram ajustados para 100 segundos (1 minuto e 40 segundos) antes do fim.
A atualização se deu devido ao fim do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) entre os Estados Unidos e a Rússia. Além disso, a tensão entre EUA e o Irã se mantinha cada vez mais forte. O mundo também começava a viver a pandemia de coronavírus (Covid-19).
1947 (23:53): Dois anos após Hiroshima e Nagasaki, o relógio é lançado marcando sete minutos para meia-noite.
1949 (23:57): Ocorre um ajuste de quatro minutos após a União Soviética testar a sua primeira bomba atômica.
1953 (23:58):O relógio é adiantado em um minuto após os Estados Unidos e a União Soviética realizarem testes de dispositivos termonucleares (bombas de hidrogênio, mais de 1000 vezes mais potentes que a de Hiroshima) com um intervalo de nove meses entre um e outro.
1960 (23:53): As Conferências de Pugwash permitem a colaboração entre cientistas americanos e soviéticos. O público parece conscientizado sobre o perigo das armas e um diálogo entre as potências para evitar o conflito direto leva os cientistas a acreditar que o perigo diminuíra. Os ponteiros são ajustados para trás.
1962 (não mudou): A grande atualização que não houve. A Crise dos Mísseis em Cuba é considerada quase universalmente como o mais perto que estivemos da aniquilação nuclear. Mas acabou antes que houvesse tempo de ajustar o relógio.
1963 (23:48): Os ponteiros retrocedem novamente em cinco minutos após os EUA e a União Soviética assinarem o Tratado de Interdição Parcial de Testes Nucleares. Além de retardar a corrida armamentista, o tratado impediu a liberação excessiva de resíduos nucleares na atmosfera.
1968 (23:53): Eventos como os testes de armas nucleares pela França e China em 1960 e 1964, a Guerra dos Seis Dias em Israel e a Guerra do Vietnã fizeram com que os ponteiros fossem adiantados em cinco minutos.
1969 (23:50): Após o Senado dos EUA ratificar o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, que tinha como objetivo limitar o armamento nuclear dos Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China o relógio foi retrocedido em três minutos.
1972 (23:48): Os ponteiros foram ajustados em doze minutos para meia-noite pela segunda vez após os EUA e a União Soviética assinarem o primeiro Tratado de Limitação de Armas Estratégicas e o Tratado sobre Mísseis Antibalísticos. Esses são mísseis que destroem mísseis nucleares — se um lado os possuísse, ficaria tentado a atacar primeiro.
1974 (23:51): Após a índia realizar o bem-sucedido teste da bomba nuclear Smiling Buddha os ponteiros foram ajustados em nove minutos para meia-noite.
1980 (23:53): Impasses nas negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética após o início da Guerra do Afeganistão fazem com que os ponteiros sejam posicionados em sete minutos para meia-noite.
1981 (23:56): As tensões aumentam quando Ronald Reagan assume a presidência dos EUA anunciando que a única forma de acabar com a Guerra Fria é vencê-la. Os ponteiros foram adiantados para quatro minutos para meia-noite.
1984 (23:57):Com a Guerra do Afeganistão e a interferência dos americanos apoiando radicais islâmicos, e diante do boicote da União Soviética nos Jogos Olímpicos em Los Angeles, o relógio foi ajustado em um minuto para frente.
1988 (23:54): O relógio retrocedeu em três minutos após os EUA e a URSS assinarem o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário, que tinha como objetivo eliminar parte do arsenal. O acordo melhorou a relação entre os dois países.
1990 (23:50): A Queda do Muro de Berlim pôs o fim da Guerra Fria no horizonte, fazendo com que os ponteiros fossem ajustados em dez minutos para meia-noite.
1991 (23:43): Após os Estados Unidos e a União Soviética assinarem o Tratado de Redução de Armamentos Estratégicos, o relógio atinge a maior distância da meia-noite até hoje: 17 minutos. A União Soviética cai no fim do ano, encerrando a Guerra Fria.
1998 (23:51): Os testes de armas nucleares realizados pela índia e pelo Paquistão e a dificuldade encontrada por os EUA e a Rússia em reduzir os estoques de armas nucleares foram os fatores contribuintes para o avanço do relógio.
2002 (23:53): O relógio é ajustado em sete minutos para meia-noite após, em consequência do 11 de Setembro, os Estados Unidos rejeitarem tratados de controle de armamento e anunciarem a intenção de se retirarem do Tratado sobre Mísseis Antibalísticos.
2007 (23:55): Restam cinco minutos para meia-noite após o teste de uma arma nuclear pela Coreia do Norte em outubro de 2006. 26 mil armas nucleares permanecem nos arsenais dos Estados Unidos e da Rússia. Pela primeira vez, a mudança climática é mencionada.
2010 (23:54): Os ponteiros retrocedem em um minuto após os EUA e a Rússia assinarem um tratado que previa a redução de arsenais nucleares. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2009 que resultou no comprometimento dos países em desenvolvimento em assumir a responsabilidade perante as emissões de carbono na atmosfera, também colaborou para o ajuste.
2012 (23:55): A falta de atuação política global perante as mudanças climáticas, os estoques de armas nucleares e o então potencial de um conflito nuclear regional (na Coreia do Norte ou no Irã) fizeram com que os ponteiros fossem ajustados em cinco minutos para meia-noite.
2015 (23:57): A então contínua falta de atuação política global para abordar os problemas gerados pela mudança climática global e a modernização de armas nucleares nos EUA e a na Rússia ajustaram os ponteiros em três minutos para meia-noite.
2017 (23:57:30): Trump foi eleito. Em sua campanha, havia perguntado três vezes a especialistas por que não podia usar armas nucleares. Ele também rejeita o aquecimento global como "conspiração chinesa" e sua eleição levou à percepção geral de um renascimento da direita nacionalista. Pela primeira vez, só 30 segundos foram modificados.
2018 (23:57:30): Mais 30 segundos, após o ano da guerra de tweets com a Coreia do Norte. Isso levou à repetição do recorde absoluto de 1953.
2020 (11:58:20):O menor tempo restante desde então surgiu após os líderes mundiais fracassarem em lidar com as ameaças da guerra nuclear devido ao fim do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) entre os Estados Unidos e a Rússia. Além disso, a tensão entre EUA e o Irã se mantinha cada vez mais forte. O mundo também começava a viver a pandemia de coronavírus (Covid-19).