Os iniciados da sociedade criminosa chilena deveriam passar por um monstruoso ritual de passagem
As celebrações que marcam mudanças de status no seio de uma comunidade são chamadas ritos de passagem. Na sociedade moderna estão ligados aos nascimentos, mortes, casamentos e formaturas e desempenham um papel extremamente importante na formação social e cultural de uma pessoa.
Mas algumas dessas cerimônias são assustadoramente perigosas, como é o caso das luvas de formigas tucandeiras da tribo amazônica Sateré-mawé. Os cultores do guaraná, obrigam os jovens a colocarem suas mãos dentro da toca das formigas, cujas ferroadas, terríveis e dolorosas, são comparadas a tiros de arma de fogo.
Outros rituais de passagem, no entanto, são ainda mais monstruosos.
Os iniciados da Brujeria, uma sociedade de criminosos e assassinos chilenos que submeteu, durante quase um século, a ilha de Chiloé a um reinado de terror, acreditavam ter o poder de voar, transmutar-se em animais, ler mentes, provocar mudanças nas marés e causar ferimentos graves ou assassinar seus inimigos à distância.
Para obter o privilégio de ser aceito na Caverna existiam rigorosos testes de admissão. Vários testemunhos, coligidos durante os julgamentos de 1880 e 1881, corroboraram o mesmo método para admissão à sua hoste abominável:
1. O aspirante passaria 40 noites com a cabeça embaixo de uma pequena cachoeira para lavar seu batismo cristão;
2. A cabeça e o corpo do iniciado deveriam ser lavados com o sangue de um recém-nascido, para alcançar uma grande acuidade mental e sensitiva, com a qual ele poderia ler os pensamentos das pessoas;
3. Cumpridas essas tarefas, ele era levado para a Caverna, para que o Rey lhe ordenasse matar um parente em uma noite de terça-feira. Após isso, nu, ele deveria dar três voltas completas em redor da ilha entoando um chamado para o Diabo;
4. Retornando à Caverna, o Rey lhe entregaria o colete feito da pele da vítima assassinada pelo próprio iniciado;
5. Deveria, então, fazer o juramento diante do Diabo e, cumprida essa exigência, um grande banquete antropofágico era servido;
6. O aprendiz de feiticeiro manteria, a partir dessa noite, um lagarto amarrado à sua testa com um lenço vermelho, para assim adquirir sua sabedoria e testemunhar outros segredos inomináveis.
M.R. Terci é escritor e esteve na legião estrangeira, expoente no gênero fantasia sombria e horror, seus livros mesclam história e o grande cabedal do folclore nacional às tramas autênticas e repletas de criatividade