Em imagens inéditas, a produção "Gulag, a história dos campos de concentração soviéticos" narra a frieza destes complexos prisionais
Logo depois do fim da Revolução Russa de 1917, o Monastério Ortodoxo das Ilhas Solovetsky, no Mar Branco, foi evacuado. Foi no lugar santo que o novo regime soviético comandado por Lenin decidiu experimentar os princípios dos chamados Gulags.
Esse é o episódio que dá início ao documentário "Gulag, a história dos campos de concentração soviéticos". Criada por Patrick Rotman, Nicolas Werth e François Aymé, a obra foi produzida pela ARTE France e por Kuiv-Michel Rotman e é um dos mais recentes lançamentos do Curta!On — clube de documentários do NOW, da Claro/NET.
Com uma narrativa bastante didática, a série documental em dois capítulos define o Gulag como "um continente dentro do continente. Uma civilização perdida, difícil de penetrar”. Segundo a obra, foi nesses quase 500 complexos russos que, em 40 anos de atividade, cerca de 20 milhões de pessoas inocentes foram julgadas como criminosas.
Confira cinco motivos para assistir “Gulag, a história dos campos de concentração soviéticos”:
1. Abordagem didática
Dividido em dois episódios, o documentário narra de forma detalhada o processo de criação dos Gulags. Assim, a obra ainda explica minuciosamente os contextos políticos e econômicos por trás da construção dos complexos prisionais.
Na primeira parte da produção, a narrativa traz as “origens e a proliferação” dos Gulags, desde os experimentos, até as terríveis construções nas quais os presos eram obrigados a trabalhar, entre 1918 e 1938. No segundo e último episódio, então, somos apresentados ao “apogeu e agonia” dos complexos, entre os anos de 1938 e 1957.
2. Depoimentos reais
Muito além de contar a história dos chamados Campos de Concentração soviéticos, o documentário fez questão de trazer rostos reais para a narrativa. Dessa forma, ele conta com testemunhos verdadeiros de vítimas dos Gulags. Tais depoimentos foram coletados entre 1988 e 2014, principalmente pela ‘Memorial’, uma ONG russa.
3. Imagens que falam
Caso os depoimentos não fossem o suficiente para transportar o espectador da obra até a época em que tudo aconteceu, as imagens utilizadas pela produção completam o serviço. São centenas de fotos e filmagens que ilustram não apenas o dia a dia dos prisioneiros dos Gulags, como também a crueldade disseminada nos complexos.
Em um primeiro momento, o documentário apresenta a terrível Igreja da Ascensão do Senhor, um isolador disciplinar, onde ocorriam as execuções na Ilhas Solovetsky; e, em seguida, a produção mostra cada detalhe da chegada de uma nova leva de prisioneiros.
4. Verdade nua e crua
Assim como diversos outros períodos políticos da história, a criação dos Gulags foi marcada por diferentes narrativas. Na época, por exemplo, propagandas do governo mostravam os prisioneiros acenando para Stalin, enquanto ele visitava um dos campos.
O documentário, no entanto, revela que os homens presos pelo regime bolchevique trabalhavam 12 horas por dia, martelando, cortando e construindo. Sob temperaturas negativas e condições desumanas, muitos dos zeks, como eram chamados, morreram no serviço — e seus corpos foram jogados na neve, para que fossem esquecidos.
5. Documentos de um extermínio em massa
Além de narrar as histórias de Andrei Roschine, que foi levado para as Ilhas Solovetsky em 1923, de Dmitri Likhatchev, preso aos 22 anos, e de Lev Martiokhine, que ficou em um Gulag por três anos, por exemplo, o documentário ainda fala sobre um dos episódios mais terríveis do período: o chamado Grande Expurgo.
Durante o ocorrido, cerca de 750 mil cidadãos soviéticos foram mortos entre agosto de 1937 e novembro de 1938. São 50 mil pessoas por mês, 1,6 mil por dia. E como se os números não fossem o suficiente, o documentário traz fotos de diversas vítimas, todas executadas, e dos terríveis documentos que levaram aos seus assassinatos.
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