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StandWithUs Brasil / Antissemitismo

A origem do termo antissemitismo

Cunhado para se referir ao ódio contra os judeus, o termo 'antissemita' possui uma imprecisão etimológica; saiba mais!

Bruno Bimbi* Publicado em 27/04/2024, às 15h00

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Judeus do campo de concentração de Auschwitz - Getty Images
Judeus do campo de concentração de Auschwitz - Getty Images

O termo "antissemita" foi acunhado no século XIX, na Alemanha, pelo jornalista Wilhelm Marr, ele mesmo um antissemita, para se referir ao ódio contra os judeus de uma forma mais "científica" que Judenhass, a palavra usada até então.

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Quer dizer que o significado específico dessa palavra sempre foi, desde a sua origem, o ódio contra os judeus; aliás, um tipo específico de ódio: racista. O termo começou a ser usado pelos antissemitas da época para se referirem a si próprios. Em 1879, Marr fundou a Liga dos Antissemitas e publicou o panfleto 'Der Weg zum Siege des Germanenthums über das Judenthum' ('O caminho para a vitória do germanismo sobre o judaísmo').

Não havia dúvidas sobre o que o termo significava.

O termo antissemita

Por outro lado, é uma imprecisão dizer que os palestinos (ou mesmo os judeus) sejam semitas. Na verdade, são semíticos o hebraico e o árabe, porque pertencem à família das línguas semíticas, como ao aramaico, o assírio, o etíope, etc. Da mesma forma que o português, o espanhol e o italiano pertencem à família das línguas românicas, mas isso não significa que os espanhóis, portugueses e italianos sejam românicos.

As línguas semíticas têm traços comuns, que os linguistas estudam, por terem a mesma origem, como acontece com as línguas românicas, germânicas, etc... mas esses termos não definem as identidades nacionais, étnicas ou de qualquer outro tipo das pessoas que as falam. Por exemplo, o inglês é a língua germânica com mais falantes, mas 'german', em inglês, é o gentilício para os alemães e não para ingleses, americanos, etc.

A confusão se dá pelo fato de os israelenses falarem hebraico e os palestinos, árabe. Contudo, na época em que o termo "antissemita" começou a ser usado para se referir ao ódio contra os judeus (e não contra falantes de línguas semíticas), o hebraico existia como língua litúrgica judaica, como o latim para os católicos, mas não como língua viva, a não ser em situações muito limitadas.

O hebraico foi modernizado tempo depois e, no século XX, tornou-se língua oficial do Estado de Israel, mas na época em que Marr cunhou o termo 'antissemita', o hebraico não era a língua materna dos judeus europeus que ele e seus amigos antissemitas odiavam. E também não o é hoje: quem tem atualmente o hebraico como língua materna são os israelenses, inclusive os não-judeus, não os judeus de outras nacionalidades (embora muitos o falem, como também muitos não-judeus).

Durante o Holocausto nazista, que foi, sem dúvidas, a manifestação mais espantosa do antissemitismo na história, os judeus enviados aos campos de extermínio não falavam hebraico, mas as línguas europeias dos seus países de origem, como o alemão e o polonês, e muitos deles também o ídiche, língua da família germânica.

Então por que Marr chamou de 'antissemita' quem odeia os judeus, como ele mesmo odiava, se esse ódio nunca teve relação com a língua, e se o antissemitismo não se estende aos falantes de árabe e de outras línguas semíticas? É simples: a etimologia das palavras não determina seu significado ou seus usos: por isso a 'homofobia' não é 'o medo aos iguais ou semelhantes', como a etimologia da palavra sugere, mas o ódio contra os gays.

Da mesma forma, nenhum trabalhador recebe hoje o salário em sal, como o termo originalmente indicava, e, felizmente, também não é torturado com um tripálio.


Bruno Bimbi (Gerente de Política Estratégica). Jornalista e escritor, é autor dos livros Casamento igualitário e O fim do armário, publicado no Brasil e em mais cinco países. Fez duas graduações, na Funceb e na Universidade de Barcelona, mestrado em Criação Literária na Universidade Pompeu Fabra e mestrado e doutorado em Estudos da Linguagem na PUC-Rio.

Foi secretário de Comunicação e Relações Institucionais da Federação Argentina LGBT e um dos responsáveis pelas campanhas por casamento civil igualitário na Argentina e no Brasil, tendo também ajudado a organizar a do Equador. Foi coordenador político e legislativo do gabinete do deputado Jean Wyllys em seus dois mandatos e membro da executiva estadual do PSOL-RJ.

Como jornalista, escreveu para jornais, revistas e agências de notícias de diferentes países, entre eles Crítica de la Argentina, Página/12, Tiempo Argentino, Télam, El País, El Mundo, CTXT, The New York Times em espanhol, Le Monde Diplomatique, O Globo e Folha de São Paulo, e foi correspondente no Brasil para os canais 13 e TN, do grupo Clarín.