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Matérias / Oppenheimer

Veja o que é ficção em Oppenheimer?

Maçã envenenada, Einstein e fim da guerra: 5 pontos em Oppenheimer que não acompanham a realidade

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 01/08/2023, às 17h05

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Cena de 'Oppenheimer' (2023) - Universal Pictures
Cena de 'Oppenheimer' (2023) - Universal Pictures

Dirigido por Christopher Nolan, Oppenheimer conta a história sobre o físico norte-americano Julius Robert Oppenheimer, diretor do Laboratório Los Alamos do Projeto Manhattan durante a Segunda Guerra Mundial, responsável por criar a bomba nuclear.

O longa é baseado no livro 'Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano', de Kai Bird e Martin J. Sherwin, publicado no Brasil pela Intrínseca e, embora permaneça fiel à história, ainda assim conta com algumas inconsistências históricas. Entenda o que é ficção em Oppenheimer!

+ Oppenheimer: 5 coisas para saber antes de assistir ao filme

1. A maçã envenenada

Este talvez seja um dos pontos mais polêmicos envolvendo realidade e ficção em Oppenheimer. Nolan narra que quando o físico ainda estudava química em Harvard, na década de 1920, tentou envenenar seu tutor, Patrick Blackett, com uma maçã.

Kai e Martin apontam que Oppenheimer admirava muito seu professor, mas detestava o fato dele sempre lhe incentivar a fazer trabalhos práticos laboratoriais — enquanto sua preferência era ir a palestras ou ler.

No final do outono de 1925, em um ato impensado e estúpido, ele decidiu envenenar a maçã que ficava na mesa de Blackett. Entretanto, o episódio foi alertado antes que o tutor comesse a fruta.

Mas, no filme, vemos o próprio Oppenheimer retirando a maçã batizada das mãos de Niels Bohr, mas os dois só se conheceram depois, quando os físicos foram apresentados por Ernest Rutherford.

Trecho da cena da maçã em 'Oppenheimer' (2023)
Trecho da cena da maçã em 'Oppenheimer' (2023) / Crédito: Reprodução/Universal Pictures

O próprio incidente da maçã envenenada é controverso, enquanto Bird e Sherwin apresentam testemunhos que levam a crer que Oppenheimer quase foi acusado de tentativa de homicídio e que tudo foi 'esquecido' após intervenção de seu pai, o neto do físico, Charles Oppenheimer, sequer aceita que o episódio é verídico.


2. Explosão particular

Um dos pontos altos do filme remete ao dia 16 de julho de 1945, com a realização da operação Trinity, no deserto do Novo México. Na data em questão foi feito o primeiro teste bem-sucedido da explosão de uma bomba atômica, que semanas mais tarde seria explodida nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.

Ao contrário do que mostra o filme, porém, a operação Trinity não foi acompanhada apelas pelos cientistas que viviam em Los Alamos. Afinal, o brilho da chama, o som da explosão e o tremor da bomba não passaram desapercebidos.

Para se ter uma ideia, janelas de cidade próximas estouraram com a força da bomba. Moradores da cidade texana de Amarillo, a cerca de 450 quilômetros de distância, puderam presenciar o flash no céu.

Manchete de jornal sobre explosão em Los Alamos/ Crédito: Reprodução/Clovis News-Journal/National Security Research Center

Assim, o governo teve que plantar uma história de que um paiol havia explodido para sustentar a narrativa, como mostram registros de jornais da época.


3. A bomba acabaria com a guerra

Em Oppenheimer, uma das explicações para o uso das bombas nucleares é de que elas colocariam um fim definitivo na guerra — que naquela altura já se arrastava para sua parte final; principalmente após as mortes de Hitler e Mussolini.

Benito Mussolini ao lado de Adolf Hitler/ Crédito: Muzej Revolucije Narodnosti Jugoslavije via Wikimedia Commons

"No filme, eles fazem parecer que a razão pela qual estão usando a bomba é porque não querem invadir o Japão, e isso não é exatamente o que foi discutido na época", aponta Alex Wellerstein, historiador de ciência e tecnologia nuclear que atua como professor do Stevens Institute of Technology, ao Business Insider.

Essa é uma racionalização pós-fato que foi criada posteriormente", completa.

4. Kyoto foi poupada por lua de mel

Após o sucesso com a operação Trinity, outro ponto fundamental foi debatido pelas autoridades norte-americanas: em quais cidades japonesas as bombas deveriam ser lançadas?

A decisão incluiu Oppenheimer e o então secretário de guerra Henry Stimson. Durante uma dessas reuniões, Stimson pede para que a cidade de Kyoto seja poupada por sua importância cultural e por ter sido o destino de sua lua de mel.

Teste nuclear, nos Estados Unidos, parte do Projeto Manhattan/ Crédito: Getty Images

Entretanto, esse segundo fator é descartado. Embora Stimson tenha visitado Kyoto, não há registros de que a cidade tenha esse tipo de memória afetiva para o então secretário de guerra. As escolhas das cidades, além disso, passaram por um processo mais complicado.


5. O consultor Albert Einstein

O elenco de Oppenheimer conta com nomes estrelados e consagrados de Hollywood, mas uma participação chama a atenção: Tom Conti, que interpreta o físico alemão Albert Einstein — que embora apareça pouco na trama, é responsável por cenas profundas e reflexivas.

+ Por que Albert Einstein aparece em ‘Oppenheimer’?

Em uma delas, Oppenheimer apresenta a Einstein uma preocupação levantada por Edward Teller, que inventou a bomba de hidrogênio, de que a explosão da bomba atômica poderia causar uma reação em cadeia que nunca cessaria — o que poderia causar a destruição do planeta.

Albert Einstein (Tom Conti) e Oppenheimer (Cillian Murphy) em cena/ Crédito: Divulgação/Universal Pictures

Embora a Teoria da Relatividade de Einstein tenha sido importante para a criação da bomba, Kai Bird e Martin J. Sherwin apontam que o físico alemão não foi consultado sobre o assunto, mas sim Arthur Compton, que foi responsável por checar os cálculos feitos por Hans Bethe; que apontavam uma possibilidade "quase zero" de tal catástrofe acontecer.