Robson Feitosa, que participou das investigações do caso, dá seu ponto de vista sobre o assunto
Desde o lançamento dos filmes sobre o assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen na plataforma de streaming da Amazon, o Prime Video, uma pergunta vem gerando curiosidade entre as pessoas que assistiram as produções: afinal, Suzane manipulou os irmãos Cravinhos ou foi influenciada por eles para cometer um dos crimes mais chocantes da sociedade brasileira?
Em ‘O Menino que Matou Meus Pais’, Suzane von Richthofen, interpretada pela atriz Carla Diaz, conta como conheceu Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt) e como a relação entre os dois afetou seu cotidiano: como o envolvimento com drogas e a iniciação na vida sexual. Vale ressaltar que o roteiro do filme é baseado nos autos do processo.
Fora isso, Suzane alega que Daniel ficou deslumbrado com o poder aquisitivo que a família von Richthofen possuía. Assim, quando os pais de Suzane passaram a impedir o namoro, ele sugeriu que eles fossem mortos, como uma forma de não perder a ‘mordomia’ que tinha conquistado — isso na visão dela.
Já em ‘A Menina que Matou os Pais’, Daniel conta que Suzane sempre viveu em uma espécie de ‘ditadura’ imposta por Manfred. A pressão jogada em cima da menina era sempre muito grande, o que fazia com que o patriarca da família privasse a filha de viver como uma pessoa de sua idade deveria.
Além do mais, Daniel percebeu que a jovem tinha uma dificuldade para se abrir em certos pontos de sua relação amorosa, o que é explicado mais tarde por Suzane, que confidencia a ele que sofria abusos físicos e sexuais de seu pai. Este seria o estopim para Cravinhos concordar em matá-los. Mas, é possível acreditar em alguma das versões?
Em entrevista exclusiva à equipe do site do Aventuras na História, Robson Feitosa — que chefiava o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo na época do crime; participando, inclusive, das investigações do caso — explica que a discussão é um pouco mais abrangente do que um estar certo e o outro errado.
“Existe uma coisa que os mais velhos sempre tentavam justificar o lado do familiar envolvido num crime. Muitos falavam assim: ‘meu filho foi induzido; foi levado a cometer isso porque o outro fez a cabeça dele’”, conta.
Robson ressalta que, em muitos casos, existam sim pessoas que são influenciáveis e outras que são manipuladoras. É o que aconteceu, em sua opinião, em relação ao assassinato dos von Richthofen: "eu acredito muito que a Suzane manipulou os dois irmãos, os Cravinhos”.
“Porém, a pergunta que não quer calar, e que jamais deve ser calada, é a seguinte: Por que eles, tanto o mais velho quanto o mais novo, o namorado dela, não virou e questionou: ‘Suzane, você está louca? Por que nós temos que matar os seus pais?’”.
Uma das alternativas para essa possível omissão, que muito é debatido até hoje, é que Suzane usou seu poder financeiro e tudo que poderia gozar e prover com a morte dos pais para convencê-los.
Feitosa destaca, no entanto, que a partir do momento que essa questão vem à tona, “ela mostra que todos são realmente criminosos — que são todos gananciosos e que todo mundo ali tem uma índole má”.
Hoje, aposentado, após mais de 34 anos de carreira, o ex-investigador evidência que, apesar dos possíveis cenários, nada justifica o crime. "Imagina se todo filho que tem os pais com um ótimo poder aquisitivo achasse que a solução fosse como a que a Suzane fez?”, reflete.
“Então, todos ali, todos os envolvidos, têm uma índole má. Quem manipulou para esse cometimento do crime, provavelmente, foi ela. Ela deu a ideia. Mas, a partir do momento que nenhum deles se opõe, todos viram responsáveis. Todos aí são criminosos de uma maneira que é inadmissível”, conclui.