Robson Feitosa revela detalhes de um dos crimes que chocou o Brasil: "As contradições aparecem e a coisa toda cai"
Hoje aposentado, após mais de 34 anos de carreira policial, Robson Feitosa dedicou parte de sua vida investigando grandes crimes que chocaram o Brasil, como o do juiz Machadinho, que foi vítima do PCC.
Chefe de investigações do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), Robson foi uma das primeiras pessoas a chegar a rua Zacarias de Góes, Brooklin, na Zona Sul de São Paulo, na fatídica madrugada de 31 de outubro de 2002.
Responsável por parte das investigações do assassinato de Marísia e Manfred von Richthofen, Feitosa revelou à equipe do site do Aventuras na História 5 fatos que marcaram o caso.
Durante toda a madrugada, os investigadores se espalharam em diversas células dentro das buscas. Enquanto alguns recolhiam informações com vizinhos e com quem passava pelo local; Robson, como costumeiramente faz em todo caso que trabalha, levou um equipamento de filmagem.
O investigador tinha a intenção de registrar o passo a passo da procura por evidências, desde quando entraram na mansão até chegarem na cena do crime. Durante as buscas, no entanto, por volta das 9 horas da manhã, Feitosa se deparou com Astrogildo Cravinhos, pai de Cristian e Daniel — mais tarde condenados pelo duplo homicídio.
“Ele chegou por volta das 9 horas da manhã, salvo engano, me perguntando o que tinha acontecido e conversou comigo um pouco — até sentei na lateral perto do quintal. Nós ficamos conversando ali, falando de seu filho e do relacionamento que ele tinha; dos meninos, tanto do filho do casal, que havia falecido, como da filha, que eram pessoas maravilhosas. Sei que foi um diálogo de pai com a emoção do momento”, recorda.
Experiente em grandes investigações, Feitosa recorda que a mansão dos von Richthofen apresentava elementos peculiares que não eram comumente notados em cenas de crimes. “Observei que [no local] não tinha nada, nenhuma marca de arrombamento; qualquer tipo de rompimento de barreira, enfim, isso estava bem nítido”.
Isso, segundo suas palavras, poderia significar que a pessoa que cometeu o crime tinha facilidade, ou foi facilitado, para entrar na casa. Além disso, o criminoso parecia saber o que procurar e onde encontrar o que precisava, já que a casa estava pouco bagunçada. “Os locais que foram revirados eram pontuais, exatamente para tentar enganar a gente”.
Apesar da encenação, Robson não foi convencido pelo que viu. “Mas de uma maneira muito infantil, faltaram muitos detalhes que, num crime real de homicídio ou latrocínio, teria ocorrido”.
Um dos principais pontos que os investigadores fizeram para tentar pegar os suspeitos no ‘pulo’ foi de interrogá-los separadamente e em simultâneo. Dessa maneira, ficaria mais fácil identificar contradições em seus depoimentos.
Dessa maneira, Robson ficou incumbido de conversar com Andreas von Richthofen. Aos 15 anos, o caçula da família pisara pela primeira vez em uma delegacia de Homicídios. Feitosa se recorda, então, que confidenciou ao garoto o brutal destino de seus pais.
“Eu contei pra ele [sobre o assassinato de seus pais]. Ele foi muito frio. O Andreas não demonstrou tanta emoção naquele momento lá”, recorda o chefe do DHPP. Além disso, também disse ao menino que Suzane e Daniel passaram a ser os principais suspeitos pelo crime. “O Andreas começou a querer falar, ele nos contou algumas coisas, mas ao mesmo tempo ele se fechava... soltava e se fechava. Ele ficou meio em estado de choque”.
Apesar do afinco da equipe criminal, as investigações sobre o duplo homicídio não foram resolvidas no mesmo dia — elas se arrastaram até o dia 8 de novembro, quando Cristian Cravinhos confessou o crime.
Antes disso, no entanto, a polícia já estava em seu encalço por uma atividade um tanto quanto suspeita. Trabalhando como mecânico, o filho mais velho de Astrogildo havia comprado uma moto Suzuki 1.100 cilindradas, cerca de dez horas depois do assassinato dos von Richthofen, como recorda matéria da Folha de São Paulo.
“Mas como ele comprou uma moto? Com que dinheiro, já que ele não trabalhava?”, lembra Feitosa de ter questionado à época. “Então, puxando, a gente descobre que quem deu esse dinheiro para a compra da moto foi a Suzane. Era uma moto grande. Assim, vai fechando o cerco, as contradições aparecem e a coisa toda cai”.
O dinheiro teria sido oriundo de uma maleta de dinheiro que ficava no escritório de Manfred. Toda semana, segundo Suzane revelou em depoimento, o pai dela deixava cerca de oito mil reais lá, como forma de suprir as necessidades da família por determinado período.
Nas imagens feitas por Robson, inclusive, é possível ver a maleta no escritório de Manfred. Em determinado momento, percebe-se que um rombo foi feito nela — que estava vazia.
Após cometer o crime, e antes de ser julgada, Suzane já mostrava traços de personalidade muito distintos.
Para Robson, a personalidade de Suzane é bem explicita: “Ela é uma manipuladora, extremamente perigosa”, diz. “Ela é uma pessoa extremamente má, fria, que não tem qualquer tipo de pudor para fazer alguma coisa”.
Para o investigador, é normal os pais buscarem sempre o melhor para seus filhos, lhe dando conselhos e tudo mais, porém, “se a pessoa não aceita e leva essa questão Ad aeternum, um rancor sem perdão, sem voltar atrás, tem algo de errado”.
“Você matar alguém, é porque o quesito ruindade/maldade, nessa pessoa, ultrapassa o padrão normal. E algo que a natureza animal, ou seja, de qualquer animal, mesmo nos homens, que somos animais racionais, não permite, não aceita”, conclui.
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