Estudo de 2017 reforçou a "humanidade básica" desses ancestrais
A espécie humana conhecida como Neandertal surgiu na Europa e no Oriente Médio há aproximadamente 400 mil anos e sua cultura, identificada como musteriense, é estudada pela ciência para que se saiba mais sobre o passado da humanidade.
Eles foram extintos há cerca de 28 mil anos, mas ainda possuem vestígios nos dias de hoje: o homem do Período Paleolítico compartilha com os humanos atuais 99,7% do seu DNA, o que deixa essa relação clara.
Os hábitos dessa espécie continuam sendo investigados por pesquisadores, que descobriram em 2017 informações importantes sobre os comportamentos sociais e de cooperação entre os hominídeos.
Cientistas da Universidade Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, investigaram o esqueleto de um neandertal que viveu há mais de 50 mil anos e perceberam que ele provavelmente só sobreviveu graças a sua comunidade, ou seja, seus amigos.
O indivíduo foi encontrado na caverna Shanidar, no Iraque, pelo arqueólogo americano Ralph Solecki, professor emérito da Universidade de Columbia. Os restos mortais foram batizados de Shanidar 1 em homenagem ao local onde eles foram descobertos.
Análises realizadas no esqueleto revelaram que ele apresentava múltiplas lesões — mais do que o permitiriam sobreviver sozinho em um ambiente hostil e difícil para os seres humanos.
Como relatou na época o portal científico Science Daily, Shanidar 1 apresentava ferimentos relacionados a um golpe lateral na face, ferimentos na perna direita, fraturas e posterior amputação do braço direito no cotovelo e, inclusive, um quadro degenerativo sistemático.
No entanto, as dificuldades encontradas pelo indivíduo para a sobrevivência não eram apenas externas e de locomoção, por exemplo. Uma investigação mais profunda foi feita por cientistas do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica.
A pesquisa posterior revelou que os crescimentos ósseos nos canais auditivos do indivíduo teriam feito com que ele tivesse uma grande perda auditiva, o que o tornaria ainda mais vulnerável em pleno contexto pleistoceno.
"Mais do que a perda de um antebraço, claudicação e outros ferimentos, sua surdez o teria tornado uma presa fácil para os carnívoros onipresentes em seu ambiente e dependente de outros membros de seu grupo social para sobreviver", explicou Erik Trinkaus, co-autor do estudo e professor de antropologia da Universidade Washington.
A privação sensorial e as debilitações teriam feito com que ele se tornasse bastante vulnerável, mas os pesquisadores perceberam que o indivíduo viveu até cerca de 40 anos de idade porque provavelmente se tornou “protegido” na comunidade.
Segundo Trinkaus, a ajuda dos outros hominídeos foi essencial para que ele pudesse sobreviver por esse período relativamente longo para a espécie, a partir dos laços de cooperação e básicos de “humanidade” desenvolvidos por eles já naquele período.
O pesquisador, que é especialista no estudo de neandertais, ressaltou ainda que não foi a primeira vez que esse tipo de comportamento foi identificado entre a espécie, o que indica que esses vínculos podem ter sido mais comuns que imaginamos.
"As debilidades de Shanidar 1, e especialmente sua perda auditiva, reforçam assim a humanidade básica desses humanos arcaicos muito difamados, os Neandertais", concluiu Trinkaus.
O estudo completo sobre o neandertal foi publicado na revista científica PLOS ONE.