Jan Žižka, um dos mais importantes comandantes militares da história europeia, teve seu rosto recriado por equipe internacional; confira!
Uma equipe internacional de especialistas — da qual fez parte o designer 3D brasileiro Cicero Moraes — recriou o provável rosto de Jan Žižka, um dos mais importantes comandantes militares da história europeia, nascido em Trocnov, na Boêmia (atual Tchéquia), em torno de 1360.
Considerado um herói nacional tcheco, Žižka é celebrado principalmente por suas inovações táticas e pela liderança no movimento hussita, que buscava reformas dentro da Igreja Católica.
Apesar de ter perdido um dos olhos em uma idade precoce, Žižka se destacou na arte da guerra, introduzindo táticas inovadoras que incluem o uso de canhões montados em carroças agrícolas blindadas, vistos como uma forma rudimentar de tanque de guerra.
Ele também foi um dos primeiros comandantes a integrar cavalaria, infantaria e artilharia como um único corpo tático, criando um sistema praticamente imbatível que desafiou as forças do rei Sigismundo, derrotando-as em 1420.
Mesmo após perder a visão do segundo olho, Žižka continuou a colaborar com seus seguidores, mantendo uma reputação de invencibilidade que permanece até hoje. Sua trajetória, inclusive, inspirou o filme "Medieval", que se tornou um sucesso na plataforma de streaming Netflix em 2022.
Com o 600º aniversário de sua morte, pesquisadores realizaram uma reconstrução facial digital dos restos mortais de Žižka. O rosto foi criado através da reconstrução facial forense (RFF), também conhecida como aproximação facial forense (AFF). Através desse processo, é possível reconstituir o rosto de uma figura a partir do crânio.
O processo inicial envolveu a projeção das linhas essenciais do crânio. Em seguida, com a caixa craniana de um doador, a imagem foi convertida em um modelo tridimensional.
Por meio da técnica de deformação anatômica, essa estrutura craniana foi ajustada para se assemelhar à estrutura do guerreiro.
Depois, a face básica passa por um processo de escultura digital, onde são inseridas marcas de expressão compatíveis com a idade e a cicatriz do ferimento no olho esquerdo, além de cabelo, sobrancelhas, bigode e barba.
Para a exibição em museus, vale destacar, a face e os olhos recebem pigmentação com base na média facial de homens adultos tchecos, obtida por meio de composições de imagem em plataformas de busca. Por fim, o vestuário é modelado conforme a iconografia atribuída ao personagem histórico.
Žižka morreu em 11 de outubro de 1424, durante a conquista do castelo de Přibyslav, na região de Vysočina, na fronteira tcheco-morávia. A causa de sua morte é incerta; enquanto fontes históricas mencionam uma úlcera purulenta, alguns historiadores sugerem que ele teria sucumbido a uma praga.
O antropólogo Emanuel Vlček, que investigou o assunto a partir da década de 1960, discordou da hipótese da peste, pois, não havia registros de epidemias na Boêmia naquele período, e nenhum dos parentes ou pessoas próximas a ele adoeceu.
Vlček propôs que Žižka faleceu por envenenamento sanguíneo devido a um carbúnculo não tratado, que poderia ter sido descrito na época como uma “úlcera purulenta”.
Após sua morte, Jan Žižka foi sepultado na Igreja do Espírito Santo em Hradec Králové, mas o local exato de seu túmulo é desconhecido.
Crônicas tchecas antigas mencionam um túmulo em um pilar da nave principal da igreja, mas seus restos mortais teriam sido transferidos para a Igreja de São Pedro e São Paulo em Čáslav.
Em 21 de novembro de 1910, durante a reforma da Igreja de São Pedro e São Paulo, um nicho murado foi encontrado contendo ossos humanos, como fragmentos de crânio e fêmures, um pedaço de cerâmica, tecido degradado e pedaços de madeira.
Esta descoberta levou a estudos antropológicos sobre os restos mortais. O primeiro relatório foi elaborado pelo fundador da antropologia tcheca, Jindřich Matiegka, mas os médicos e especialistas da época não entraram em consenso.
Assim, ao longo de décadas, Emanuel Vlček estudou extensivamente a chamada "calva de Čáslav" e outros ossos encontrados, desenvolvendo uma pesquisa antropológica e médica detalhada.
Os ossos no local pertenciam a pelo menos três pessoas, mas o crânio incompleto, com ossos frontais, parietais e parte do occipital, foi atribuído a Žižka.
O crânio apresentou sinais de lesões curadas no olho esquerdo, indicando um ferimento cicatrizado na juventude — antes mesmo que o indivíduo tivesse completado o crescimento, entre 10 e 14 anos — e marcas no olho direito, que teriam ocorrido pouco antes de sua morte.
Estes ferimentos são historicamente compatíveis com o período do cerco ao Castelo de Rábí em 1421, onde Žižka perdeu a visão.
A identificação do crânio como pertencente a Jan Žižka se baseia em características específicas: traços faciais masculinos, com cerca de 50 anos na época de sua morte, e evidências de lesões oculares que indicam um perfil raro, difícil de encontrar em outros contextos históricos.
A datação por radiocarbono realizada em 2024 reforça a autenticidade dos restos, apontando para o período próximo a 1424, ano da morte de Žižka.
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