Lotada de detalhes impressionantes, fossem eles planejados ou não, a tela é considerada o maior tesouro nacional da Holanda
Maior pintor da Holanda e entre os maiores do mundo, Rembrandt Harmenszoon van Rijn é um dos símbolos da Era de Ouro Holandesa, no século 17. Foi quando o pequeno país brilhou em artes, ciências e até poderio militar — durante a Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648), a República Holandesa conquistou sua independência da Espanha, até então uma superpotência, e acabou superando os ibéricos em negócios marítimos, chegando a ter uma colônia no Brasil.
Pintado ao fim do conflito, entre 1640 e 1642, 'A Ronda Noturna' tornou-se o maior quadro do pintor. Mesmo após sofrer alterações e uma séria mutilação, que removeu 20% de sua área, é a grande atração do Rijksmuseum, o mais visitado museu da Holanda, em Amsterdã. Uma grande área da estrutura, que reabriu em 2013 após dez anos de reformas, é desenhada em torno do quadro.
No Rijksmuseum, outras pinturas de soldados da época ficam à volta de 'A Ronda Noturna', para dar uma ideia de como o trabalho estava muito acima do que artistas menos talentosos faziam. 'A Ronda' tem movimento e ação, enquanto os outros apenas mostram soldados posando, como para uma fotografia. Existe até mesmo uma alçapão sob a pintura, para que possa ser resgatada imediatamente em caso de emergência.
Todo o processo de atirar está representado no decorrer obra. O homem de vermelho, por exemplo, está carregando sua arma. À sua direita, alguém segura uma mecha. No centro da figura, ao lado do homem de chapéu amarelo, há um cano fumegante. Logo à direita, alguém se prepara parar recarregar.
A menina carrega um frango, expondo suas garras — klauw em holandês — e uma pistola — kloven. Esses eram símbolos dos arcabuzeiros civis, os Kloveniers, que encomendaram a pintura. A galinha morta também simboliza o que eles pretendiam fazer com os inimigos.
O escudo no topo da imagem foi adicionado em 1715, décadas após a morte do pintor. Ele tem o nome de 18 dos soldados retratados. No total, há 34 personagens na pintura, membros da guarda civil de Amsterdã, voluntários que defendiam a cidade contra revoltas e incêndios.
Os personagens centrais são o capitão Frans Banning Cocq e o tenente Willem van Ruytenburch, que se preparavam para um desfile. Os dois representam a união dos católicos e protestantes holandeses, na defesa do país contra a Espanha.
O quadro ganhou o apelido de “Ronda Noturna” no século 18, quando o nome original havia sido esquecido e o escurecimento da tinta pelo tempo fez parecer que a cena era à noite. Uma restauração na década de 40 revelou a luz do Sol no centro da imagem.
Nas costas do cachorro, é possível notar uma linha, resultado de um ataque que o quadro sofreu em 1975. Um professor desempregado e mentalmente instável retalhou a obra com uma faca. A restauração deixou uma cicatriz quase invisível.