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Matérias / Jerry Springer

Os polêmicos bastidores de The Jerry Springer Show

Nova minissérie na Netflix, 'Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação' revela bastidores do polêmico programa de TV dos EUA 'The Jerry Springer Show'

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 05/01/2025, às 11h00

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Imagem de divulgação da minissérie 'Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação', da Netflix - Divulgação/Netflix
Imagem de divulgação da minissérie 'Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação', da Netflix - Divulgação/Netflix

Na próxima terça-feira, 7 de janeiro, chega à Netflix a nova minissérie documental em duas partes 'Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação', onde nos são mostrados os "bastidores do talk show mais polemico dos EUA, expondo seus maiores escândalos na frente e por trás das câmeras", conforme repercute a sinopse disponibilizada no streaming.

Com um total de 28 temporadas, 'The Jerry Springer Show' foi exibido na televisão norte-americana entre 1991 e 2018, onde pessoas comuns expunham seus problemas pessoais para todo país, apresentando desde triângulos amorosos problemáticos até casos de incesto, supremacistas brancos e até mesmo um homem que se casou com seu cavalo, um dos episódios mais controversos e conhecidos.

Antes de assistir à produção, dividida em duas partes, confira a seguir alguns detalhes dos bastidores do polêmico programa de TV 'The Jerry Springer Show':

Programa polêmico

Conforme repercute o The Guardian, o 'The Jerry Springer Show' foi ao ar em 1991 e, após muito tempo, só fracassou em 2018. Ele começou como um mero talk show comum, liderado por um âncora de notícias bem-educado, mas que, com o tempo, foi levado a uma apresentação cada vez mais sensacionalista.

Foi nesse formado que o programa se tornou um grande sucesso e, no fim dos anos 90, era uma febre nos Estados Unidos, chegando até mesmo a possuir avaliações superiores às de Oprah Winfrey. No entanto, defensores da moralidade protestavam e criticavam abertamente ao programa.

Isso porque muitos alegavam que aquele conteúdo seria o responsável por corroer a sociedade americana e, indo mais longe, muitos acreditam que ele foi uma das bases a favorecer a ascensão de Donald Trump ao poder.

Parecia tão cru, visceral e descarado na forma como estava sendo embalado — isso meio que me chocou", descreve o cineasta britânico Luke Sewell ao Guardian.

Ele ainda menciona que o programa era como uma "espécie de Coliseu Romano — choque puro, espetáculo puro, confronto puro. E para ter tanto sucesso claramente abriu as portas para a TV de realidade, e eu acho que algumas das coisas no mundo de hoje".

Histórias polêmicas

No novo documentário da Netflix, acompanhamos os eventos em torno do programa desde sua ascensão, até seus pontos mais baixos, como a ocasião em que membros da Ku Klux Klan foram convidados. Frequentemente também eram exibidas histórias tristes, chocantes e até revoltantes.

Vale mencionar ainda que o próprio Jerry Springer, que faleceu em abril de 2023 em decorrência de um câncer de pâncreas, se recusou a participar do documentário. Ainda assim, sendo uma figura impossível de não se retratar, ele é mostrado como um operador habilidoso que, frequentemente, parecia perplexo e consternado com seus convidados.

Um ex-político democrata e repórter político, Springer "vendeu sua alma" ao programa. "Aquele programa não estava contribuindo com nada positivo para o mundo e ele parecia um cara de princípios no coração, mas isso lhe trouxe grande notoriedade, fama e riqueza. Direi que todos falavam muito bem de Jerry. Acho que uma parte fundamental do sucesso do programa foi ele como apresentador... Ele teve uma jornada bastante fácil porque você pensa no programa e então pensa nele quase como algo separado — isso é algo e tanto de se fazer. Você podia ver o político talentoso", comenta Sewell.

Jerry Springer no 'The Jerry Springer Show' / Crédito: Getty Images

E foi com essa fama que o programa se tornou um grande sucesso, com pessoas ligando todos os dias para poderem participar de um episódio, onde revelariam cada detalhe de qualquer situação horrível ou absurda em que estivessem envolvidas. Tobias Yoshimura, um dos produtores do programa, diz ao Guardian que o programa era, basicamente, sobre "histórias de estilo de vida incomuns".

"Não são realmente triângulos amorosos. É mais como: 'Eu tenho uma mulher com um fetiche por comida, ela tem 340 quilos, e ela é superapaixonada por entrar em sua banheira de hidromassagem, enchê-la com creme de milho e fazer o nado de costas enquanto lambe os dedos do seu amante secreto de um metro e meio que é um mestre de masmorra de bondage.' Isso é engraçado, e é um visual que você nunca vai esquecer", explica.

Com isso, o programa era uma porta aberta para todo o tipo de história inesperada, de pessoas que não apareceriam na TV de outras formas. Porém, Yoshimura ainda relata que nunca colocaria no programa alguém que fosse muito vulnerável; e ainda assim, carrega alguns arrependimentos sobre os que apareceram.

Convidados explorados?

Quando questionado se sentia que alguns convidados teriam sido explorados no programa, Yoshimura opina que não pensa isso. "Ir ao The Jerry Springer Show era como entrar no Thunderdome; eram jogos de gladiadores, e se você não estivesse pronto para confrontar 300 membros da plateia gritando com você, eu não tinha feito meu trabalho. Então, vou prepará-lo para isso, e se isso significa que tenho que incendiá-lo como um treinador de futebol no intervalo, estou fazendo isso. Não acho que isso seja exploração".

Porém, é importante ressaltar que a maioria dos convidados eram pessoas de baixa escolaridade, que recebiam salários baixos e eram, em geral, de famílias de partes pobres dos EUA. Alguns ainda pareciam ter problemas de saúde mental, inclusive. Porém, por mais que isso parecesse condescendente, era necessário que eles pudessem aparecer na televisão sem serem gritados e ridicularizados.

O que essa declaração me diz é que, a menos que você seja de uma certa classe econômica, você não tem permissão para aparecer na televisão, e isso é besteira. Por favor, me diga a diferença entre a luta que vi no Real Housewives of Beverly Hills ontem à noite e o The Jerry Springer Show. Dinheiro. Essa é a única diferença", opina Yoshimura.

Isso tudo sem mencionar no quão estressante era o programa, não só para os convidados, mas também para os produtores. Isso porque eles tinham não só que encontrar convidados para participar do programa, como ainda convencê-los disso, levá-los para Chicago e lidar até o fim com qualquer oscilação de última hora.

Inclusive, o próprio Yoshimura os alertava previamente sobre como era a participação e atuação no programa, inclusive aumentando a excitação dos convidados em várias ocasiões, os enchendo de bebidas energéticas ou até os encorajando a sair na noite anterior para beber, como relatado por um convidado no novo documentário da Netflix.

Jerry Springer no 'The Jerry Springer Show' / Crédito: Getty Images

Maior expressão

Melinda Chait Mele, que trabalhou junto de Yoshimura na produção do programa, opina também que acredita que o programa desempenhou, sim, algum papel importante no "afrouxamento da contenção das coisas".

Acho que as pessoas se tornaram capazes de se expressar mais abertamente, mais detestavelmente, mais na sua cara".

Isso, inclusive, serve como um paralelo para Donald Trump, que já naquela época era rápido para começar brigas públicas. "[...] ele também foi parte dessa mudança para que fosse 'OK' dizer coisas horríveis para outras pessoas, apenas dizer o que quer que saia da sua cara".

Porém, Yoshimura pontua: "Acho que Trump abriu o caminho para Trump. Não acho que tivemos nada a ver com isso". Isso porque os convidados não foram apenas importunados por Springer durante o programa, mas principalmente pelo público.

"É aqui que eu acho que o The Jerry Springer Show realmente foi uma grande parte de uma mudança na maneira como as pessoas se comportam em público umas com as outras", diz Chait Mele.

Confira mais detalhes sobre o programa de TV mais polêmico dos EUA no novo documentário 'Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação', que chega nesta terça-feira, 7, na Netflix.

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