Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Curiosidades / Império Romano

Pão e circo mortal: Os gladiadores romanos realmente lutavam até a morte?

Os antigos gladiadores romanos são lembrados como escravos e prisioneiros sentenciados, que lutavam no Coliseu até a morte; mas realmente era assim?

Éric Moreira
por Éric Moreira

Publicado em 16/10/2024, às 10h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Cena de 'Gladiador 2' - Divulgação/Paramount Pictures
Cena de 'Gladiador 2' - Divulgação/Paramount Pictures

No próximo mês, chega aos cinemas o aguardado filme 'Gladiador 2'. Dando sequência ao clássico do ano 2000, dirigido por Ridley Scott, neste filme acompanhamos uma narrativa brutal em busca de vingança ambientada no antigo Império Romano, sob o domínio dos imperadores Caracala e Geta.

No trailer do novo filme, é revelado que o novo protagonista, Lucius (interpretado por Paul Mescal) assistiu pessoalmente à luta final de 'Gladiador' (2000), e a história ocorre cerca de 20 anos depois dos eventos do primeiro filme — curiosamente, quase o mesmo tempo que esperamos pela sequência.

"Anos depois de testemunhar a morte do reverenciado herói Maximus nas mãos de seu tio, Lucius (Mescal) é forçado a entrar no Coliseu depois que sua casa é conquistada pelos imperadores tirânicos que agora lideram Roma com ferro", informa o material promocional de 'Gladiador 2'. "Com raiva em seu coração e o futuro do Império em jogo, Lucius deve olhar para seu passado para encontrar força e honra para devolver a glória de Roma ao seu povo".

Além da espera de mais de duas décadas pela continuação, 'Gladiador 2' também já é considerado um dos filmes mais aguardados de 2024 por contar com a direção de Ridley Scott e um elenco de peso, incluindo, além de Paul Mescal, figuras como Pedro Pascal, Denzel Washington, Joseph Quinn e Fred Hechinger.

Embora ainda seja um mistério como a história do novo filme vai se desenrolar, visto que não possui qualquer compromisso com eventos históricos, o que podemos ter certeza sobre seu conteúdo é que, assim como o original, o público vai acompanhar cenas de batalhas brutais dentro do Coliseu, entre gladiadores.

Essas batalhas, por sua vez, são conhecidas historicamente, e realmente ocorriam no Coliseu, nas quais escravos e prisioneiros eram levados à morte em prol do "pão e circo" de Roma. Mas afinal, os antigos gladiadores romanos realmente lutavam até a morte, como muitos filmes mostram?

+ Gladiador 2: Veja as figuras históricas reais que inspiraram o filme

Cena de 'Gladiador 2' / Crédito: Divulgação/Paramount Pictures

Espetáculo

Em filmes, os gladiadores são retratados em batalhas sangrentas que sempre terminam, pelo menos, com um dos lutadores mortos diante de uma enorme plateia no Coliseu. Embora tenha acontecido de maneira semelhante, os espetáculos da vida real apresentavam de maneira diferente.

Conforme informado por Alfonso Manas, pesquisador da Universidade da Califórnia que estudou profundamente os gladiadores, ao Live Science, evidências históricas indicam que a taxa de mortalidade dos antigos gladiadores variou bastante ao longo do tempo.

Pinturas de tumbas do século 4 a.C., localizadas na antiga cidade romana de Paestum, por exemplo, mostram que, na época, alguns gladiadores eram representados com "ferimentos terríveis", sugerindo que muitas das primeiras lutas terminavam com mortes. Porém, Manas pontua que os embates em questão foram atualizados após 27 a.C., o que levou à diminuição na mortalidade.

Pintura representando um gladiador romano no Coliseu / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Variações

Em algum momento durante os reinados dos imperadores Augusto (entre 30 a.C. e 14 d.C.) e Tibério (de 14 d.C. a 37 d.C.), foram feitas mudanças nas batalhas, mas não se sabe exatamente como foram as atualizações específicas nas regras.

"No século I d.C., conhecemos [a] taxa de mortalidade perfeitamente: o estudo dos resultados das lutas de gladiadores pintadas nas paredes de Pompeia diz que de 5 lutas, uma terminava com a morte do perdedor", destacou Manas ao Live Science.

O pesquisador ainda acrescenta que a taxa de mortalidade provavelmente permaneceu inalterada ao longo do século 2 d.C.. Por isso, alguns indivíduos livres até mesmo se voluntariavam para se tornar gladiadores, mesmo que muitos ainda fossem escravos ou prisioneiros.

Vale mencionar que, nesse período, um gladiador poderia se render largando o escudo e estendendo o dedo indicador. Inclusive, havia uma espécie de árbitro que impunha as regras da luta, sendo capaz de interromper caso um dos guerreiros estivesse prestes a ser morto, pontua o Live Science.

Outro detalhe é que, caso aquele que organizasse a luta insistisse na morte de um guerreiro, o cenário também mudava. No caso de um escravo, por exemplo, seria necessário pagar uma quantia alta aquele que fornecia os gladiadores. 

"Gladiadores podiam ser alugados de seus donos por magistrados que quisessem organizar jogos, e há algumas evidências desses contratos que mostram que se um gladiador fosse devolvido gravemente ferido — ou morto imediatamente — o arrendamento do gladiador seria convertido em uma venda [e] o preço poderia aumentar em algo como 50 vezes o custo do contrato original", disse a professora de estudos clássicos da The Open University, Virginia Campbell, ao Live Science.

Paul Mescal em 'Gladiador 2' / Crédito: Divulgação/Paramount Pictures

Porém, por volta do século 3 d.C., a taxa de mortalidade voltou a subir: "Um gosto maior pela crueldade se tornou popular entre as pessoas, com lutas em que o perdedor não tinha permissão para pedir perdão se tornando costumeiras novamente", observa Manas. "As fontes do século 3 sugerem que uma em cada duas lutas terminava com a morte do derrotado", complementa.

Essas taxas elevadas de mortalidade teriam permanecido ao longo do século 4 e, no século 5, os jogos de gladiadores entraram em declínio, se tornando menos populares e, possivelmente, não resultando em morte.

Guerreiros despreparados

Um fato sobre as lutas de gladiadores é que nem todos que entravam na arena eram guerreiros treinados. Muitos eram meros criminosos que foram sentenciados à morte, e por isso eram largados para serem devorados por animais selvagens. Sem qualquer treinamento, e nem mesmo portando armas, eles quase sempre morriam.

Eles teriam batalhado contra animais famintos na esperança de, talvez, conquistar a liberdade, enquanto o público se preparava para as verdadeiras lutas com gladiadores treinados e famosos. Esses prisioneiros sem treinamento, inclusive, eram relativamente mais baratos caso morressem, e ainda serviam, nas palavras de Campbell, como uma forma de "controle social".

"Não era apenas um alimento relativamente barato para entretenimento mortal, mas a prática de colocar condenados na arena era vista como uma espécie de dissuasão — não cometa crimes ou você pode acabar aqui", explica Virginia Campbell. "Entretenimento e controle social de uma só vez".