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Matérias / Netflix

'Número 24': A história real por trás do novo filme de guerra da Netflix

Produção, que estreia no próximo 1º de janeiro, recorda a história de Gunnar Sønsteby; o herói mais condecorado da resistência norueguesa na 2ª Guerra

Fabio Previdelli
por Fabio Previdelli
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Publicado em 29/12/2024, às 16h00 - Atualizado em 01/01/2025, às 10h03

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Cena de 'Número 24' - Netflix
Cena de 'Número 24' - Netflix

Entre 8 de abril e 10 de junho de 1940, a Alemanha nazista promoveu uma campanha brutal para invadir a Noruega, durante campanha na Segunda Guerra Mundial. Embora o país fosse neutro no conflito, seu território era crucial para os planos do Terceiro Reich e de Adolf Hitler.

Para começar, o país era importante para o envio de minério de ferro vindo da Suécia, que era exportado pelo porto norueguês de Narvik. A rota garantia a entrega nos meses de inverno, quando o Mar Báltico estivesse, em grande parte, congelado. Além disso, o controle dos portos do país daria à Alemanha uma vantagem marítima contra os Aliados. 

Durante a campanha de dois meses, os noruegueses tentaram resistir, mas não conseguiram frear o ímpeto nazista. A resistência, inclusive, seguiu até o fim do conflito e pode ser personificada na figura de Gunnar Sønsteby

Ele levou a invasão para o lado pessoal, ressentindo-se "da humilhação de ver aquelas criaturas de uniforme verde vagando por nossas ruas", como ele relembrou em suas memórias, recorda o The Guardian. 

Sønsteby se tornou o herói mais condecorado da resistência norueguesa na Segunda Guerra Mundial e terá suas história contada na nova produção exclusiva da Netflix: 'Número 24', que estreia na próxima quarta-feira, 1º de janeiro

"Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, a determinação de um jovem norueguês em resistir aos nazistas muda o ruma de sua vida (e de seu país)", diz a sinopse da produção. Conheça a história real de Gunnar Sønsteby!

Líder da Resistência

Também conhecido por seu codinome "Kjakan" ("O Queixo"), GunnarSønsteby foi um dos membros mais proeminentes do movimento de resistência norueguês durante a ocupação nazista. Ele foi responsável por realizar inúmeras missões de sabotagem e atos de heroísmo. 

Durante o conflito, Sønsteby ficou conhecido como mestre do disfarce. Afinal, quando mais de 30 identidades diferentes, todas falsificadas, ele conseguiu ludibriar a Gestapo. Constantemente, ele dizia que sua habilidade de escapar se dava por sua aparência comum, visto que apenas no final da Guerra que a polícia secreta nazista descobriu sua verdadeira identidade. 

Nascido na pequena cidade de Rjukan, em 11 de janeiro de 1918, Gunnar Fridtjof ThurmannSønsteby se mudou com sua família para a capital Oslo em meados dos anos 1930. 

Gunnar Sønsteby na ficção e na vida real - Netflix/Getty Images

Por lá, estudou economia e trabalhava como auditor quando a Alemanha começou a invadir seu país. Com o sucesso da ofensiva nazista, ele se juntou à resistência norueguesa no leste da Noruega; período no qual conheceu Max Manus, outra figura importante do movimento. Juntos, publicaram um jornal clandestino para combater a propaganda alemã, mas esse foi apenas o início de seus esforços. 

Segundo recorda matéria do The Guardian, cansado da forma cautelosa com que os membros da resistência estavam atuando, ele passou a oferecer seus serviços para a polícia estadual norueguesa pró-nazista, uma forma de conseguir 'passe livre' para viajar e reunir informações contundentes. 

No meio dessas viagens, conseguiu cruzar a fronteira montanhosa da Suécia e se dirigiu até a embaixada britânica em Estocolmo; onde foi recrutado pela unidade militar secreta britânica Special Operations Executive (SOE) — agência criada para organizar sabotagem em territórios ocupados. Por lá, se tornou o lendário 'Agente Número 24', em 1942

Uma de suas primeiras tarefas foi reunir informações sobre o novo U-boat e as instalações portuárias que os alemães estavam construindo em Trondheim, no extremo norte do país. Nesse período, ele aprendeu sozinho a falsificar uma série de documentos alemães — que permitiram criar seus muitos disfarces para escapar da Gestapo.

No verão de 1942, ele roubou placas de impressão de notas do banco estatal norueguês para ajudar o SOE a financiar operações na Noruega, contrabandeando-as pela fronteira sueca. 

Em novembro de 1943, ele foi enviado a Oslo de paraquedas; pousando numa capital muito mais ameaçadora, onde seu pai e vários colegas da resistência tinham sido presos. Naquele mesmo ano, se tornou o contato de todos os agentes da SOE no leste da Noruega e um membro-chave da Linge Company — uma unidade independente norueguesa formada pela SOE. 

O mais procurado

Conforme recorda matéria do The Independent, por todas suas ações, Gunnar Sønsteby entrou na lista dos "mais procurados" da Gestapo; sendo capaz até mesmo de replicar a assinatura de Karl Marthinsen, o notório líder traidor da polícia nazista norueguesa. 

Sønsteby, entre seus muitos atos de sabotagem, criou a chamada Oslogjengen ('Gangue de Oslo'); que se tornou responsável pelo assassinato de vários comandantes e colaboradores importantes da Wehrmacht (as Forças Armadas nazistas). 

O grupo também foi responsável pela destruição de fábricas de armamentos, produtos químicos e aeronaves alemãs; além da a destruição de registros oficiais que os alemães estavam usando para reunir jovens noruegueses para uma ofensiva contra a União Soviética ou que seriam levados para campos de trabalho forçado. 

De acordo com o historiador britânico William Mackenzie, a Gangue de Oslo, liderada por Sønsteby, foi "o melhor grupo de sabotadores da Europa", aponta o Guardian. Um outro bom exemplo disso ocorreu na véspera de Ano Novo de 1944, quando eles bombardearam a Victoria Terrasse em Oslo, onde a Gestapo tinha sua sede. 

A foto que eternizou o 'Dia D' nos livros de História - Domínio Público

O grupo ainda foi fundamental quando os aliados invadiram a Normandia, em junho de 1944, no famoso Dia D. Afinal, Sønsteby ordenou que a resistência sabotasse as ferrovias norueguesas; impedindo a Wehrmacht de enviar reforços para o sul. 

Liberdade e condecorações

Quando a Noruega foi libertada, em 8 de maio de 1945, tanto os serviços de inteligência britânicos quanto os noruegueses tentaram recrutar Sønsteby, mas ele recusou. "Eu não queria mais guerra. Eu já estava farto. Eu tinha perdido cinco anos da minha vida".

Assim, naquele mesmo ano, ele deixou a Noruega e foi para Harvard para completar seus estudos. Gunnar Sønsteby passou a trabalhar na indústria petrolífera antes de retornar à Noruega para trabalhar em negócios privados.

No período pós-Guerra, depois de sua aposentadoria, ele passou a palestras para jovens noruegueses sobre a Segunda Guerra Mundial e a necessidade de lutar por valores democráticos. 

Gunnar Sønsteby - Norway Museum of Resistance

Em 1945, Sønsteby foi agraciado com a Ordem de Serviço Distinto Britânico e a Medalha da Liberdade dos EUA com Palma de Prata. Ele ainda hoje é o único norueguês a receber a Cruz de Guerra com Três Espadas. Em 2008, ele se tornou o primeiro não americano a receber a Medalha do Comando de Operações Especiais dos EUA. Em abril, foi a primeira pessoa a receber a Cruz de Honra da Defesa Norueguesa.

Combatente da resistência, Gunnar Sønsteby foi casado com Anne-Karin. Ele morreu em Oslo em 10 de maio de 2012, aos 94 anos, recebendo um Funeral de Estado.

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