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Matérias / Arqueologia

O rei que inspirou Shakespeare e teve os restos mortais encontrados mais de 500 anos depois

Ricardo III, o último rei inglês a morrer em combate, teve reinado breve, porém turbulento, e inspirou até mesmo Shakespeare em uma de suas peças

por Giovanna Gomes
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Publicado em 13/08/2024, às 19h00

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Representação de Ricardo III - Divulgação/Bridgeman Images
Representação de Ricardo III - Divulgação/Bridgeman Images

'O Rei Perdido', longa-metragem de Stephen Frears lançado em 2022, revela a extraordinária história da descoberta dos restos mortais do rei Ricardo III da Inglaterra, encontrados em 2012 em um estacionamento em Leicester. Baseado em eventos reais, o filme explora como o corpo do último monarca da dinastia dos Plantagenetas foi esquecido por séculos antes de ser resgatado.

Seu breve reinado, que durou pouco mais de dois anos, terminou com sua morte na Batalha de Bosworth Field em 1485, um evento decisivo na Guerra das Rosas.

Ricardo III foi o último rei inglês a morrer em combate — e sua reputação foi em grande parte moldada pela peça de William Shakespeare que leva seu nome e o retrata como um déspota sedento por poder.

Ascensão e morte

Nascido em outubro de 1452, Ricardo era irmão do rei Eduardo IV. Após a morte deste, em 1483, Ricardo depôs o filho de treze anos de seu irmão, Eduardo V, alegando que o jovem era ilegítimo. De acordo com o portal National Geographic, ele manteve seus sobrinhos de dez anos, Eduardo V e Ricardo de Shrewsbury, na Torre de Londres, e acredita-se que os tenha assassinado para consolidar seu poder.

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Após seus atos, Ricardo enfrentou uma revolta de seus opositores, incluindo a Casa de Tudor, e foi derrotado na Batalha de Bosworth Field, ocasião em que foi morto.

Ricardo III na Batalha de Bosworth Field / Crédito: Wikimedia Commons/James William Edmund Doyle

Inicialmente sepultado na Igreja Greyfriars em Leicester, seu local de descanso foi perdido após a dissolução dos mosteiros por Henrique VIII na década de 1530. Em razão disso, historiadores acreditavam que seus restos haviam sido jogados no rio Soar.

Ricardianos

Durante séculos, a reputação de Ricardo foi definida pela tragédia de Shakespeare, mas um grupo de entusiastas conhecido como ricardianos buscava restaurar sua imagem e descobrir seu verdadeiro local de sepultamento. Philippa Langley, uma devota ricardiana, desempenhou um papel crucial.

Em 2004, Langley visitou o antigo local da Igreja Greyfriars, que havia sido parcialmente transformado em estacionamento. Ela sentiu uma conexão inexplicável com o local. Um ano depois, a mulher interpretou uma vaga marcada com a letra R como um sinal.

"Eu senti que estava andando no túmulo de Ricardo III", disse ela ao The Guardian em 2013. "Eu não posso explicar isso."

Vitral no Castelo de Cardiff representando Ricardo III e Ana Neville / Crédito: Wikimedia Commons/VeteranMP

A escavação

Langley incentivou arqueólogos da Universidade de Leicester a investigar o local. A descoberta de um descendente vivo do rei em 2005 tornou a escavação mais viável, pois seu DNA poderia confirmar a identidade dos restos encontrados. A escavação teve início em agosto de 2012 e, rapidamente, os arqueólogos encontraram restos humanos.

Um dos esqueletos apresentava uma curvatura na coluna consistente com a escoliose conhecida de Ricardo III e sinais de ferimentos de batalha. Em fevereiro de 2013, a equipe confirmou a identidade do esqueleto como sendo de fato do monarca, conforme publicado na revista Nature.

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Dois anos mais tarde, em 2015, o esqueleto foi reenterrado na Catedral de Leicester, com uma cerimônia que incluiu um poema da poetisa Carol Ann Duffy lido por Benedict Cumberbatch e uma coroa projetada por John Ashdown-Hill, que ajudou a identificar o descendente canadense.

A ossada do rei Ricardo III, encontrada em estacionamento / Crédito: Wikimedia Commons/Richard Buckley et al.

Controvérsia

Apesar do sucesso do filme e dos prêmios recebidos, o retrato da escavação em 'O Rei Perdido' gerou controvérsias, culminando em uma coletiva de imprensa realizada pela Universidade de Leicester. O objetivo foi corrigir o que os pesquisadores consideram imprecisões no filme, especialmente a forma como arqueólogos foram representados; no caso, como obstáculos em meio à missão de Langley.

Um porta-voz da universidade afirmou, segundo o National Geographic, que Langley foi uma força positiva no projeto e que os arqueólogos colaboraram estritamente com ela.

Vale destacar que, hoje, o antigo local de sepultamento de Ricardo III não é mais um estacionamento, mas um centro de visitantes com piso de vidro, de modo a permitir que o público observe o túmulo antigo e explore a intrigante saga dos restos mortais do monarca britânico.